terça-feira, 9 de agosto de 2016

ISLAMISMO

Geograficamente, o Islamismo, religião fundada pelo profeta Maomé, é uma fé que predomina nos países do sol, aclimatizando-se melhor na longa faixa de terra que, partindo das praias africanas do Atlântico, segue para o Leste pela borda meridional do mar Mediterrâneo, inclinando-se depois em direção à Mesopotâmia, passando pela Península Arábica, alcançando o noroeste da Índia.

Dali chega, pelo Oceano Índico, até as ilhas tropicais da Indonésia e das Filipinas. Outro dos seus longos braços avançou célere para a Ásia Central, afastando os ritos fetichistas e pagãos, realizando conversões em massa.

Nos seus 1400 anos de existência, o islamismo conseguiu a façanha de converter 1/5 da humanidade à sua fé. Trata-se de uma religião que abriga todas as raças e todas as línguas.

Talvez, exatamente por esse seu ecumenismo, por essa tentativa de abraçar o mundo inteiro, é que ela terminou por conflitar-se com o cristianismo, que também nasceu no mesmo espaço geográfico e igualmente abriga o desejo de salvar e converter todos a fé de Cristo.

Maomé (Muhammad)

Ao contrário de tantos outros profetas, que só conseguiram sedimentar sua mensagem por meio de apóstolos, muito tempo depois da morte, Maomé viu ainda em vida sua obra ser consagrada. Em 630, depois de vinte anos de pregação, ele entrou em Meca como um vitorioso.

Conseguira converter ao Islã, a nova fé anunciada por ele, não só a cidade principal da Arábia, como toda a grande península da qual ela fazia parte. Nascido em Meca em 570, durante anos ele viajara como mercador pelas rotas dos desertos Saarinos, atividade que lhe permitiu juntar um bom patrimônio, especialmente devido ao seu casamento com a rica viúva Cadija.

Com o tempo, ele sentiu-se cada vez mais envolvido por preocupações religiosas, entregando-se à meditação em breves retiros que começou a fazer. Somente aos 40 anos, ao redor de 610, ele teve por fim uma revelação, quando o arcanjo Gabriel fez-lhe ver que o Todo-Poderoso o escolhera como o seu mensageiro. Retirado para uma gruta no Monte Hira, Maomé terminou por confirmar a aparição, dedicando-se então a pregar a boa nova. Só havia um Deus! Era Alá, e todos deveriam resignar-se perante ele (islam).

A revelação do Monte Hira


O arcanjo Gabriel aparece para Maomé

A escolha dele como "apóstolo de Alá" deu-se sob duas formas: uma intelectual e outra emocional. A primeira delas, a revelação propriamente dita (tanzil), fez dele o redator da Escritura Sagrada, do Corão (recitação) trazida a ele por um anjo.

A outra parte da revelação ocorreu em forma de uma inspiração (nahyi, ilman), responsável pela conversão do coração do Profeta, passando a regular a sua conduta e servindo como exemplo aos fiéis.

Maomé confiou a sua visão à sua mulher Cadija, que se tornou sua primeira seguidora, convertendo a seguir os seus próximos. A sua tentativa de ganhar o coração dos corachitas, tribo em que nascera, porém, trouxe-lhe os primeiros dissabores.

Maomé, como a maioria dos profetas, demorou para ser bem aceito na sua cidade, mas mesmo assim ele não esmoreceu em fazer da nova crença um poderoso instrumento para estabelecer novas bases sociais para os povos do deserto. O ponto da discórdia entre Maomé e os principais de Meca foi justamente a condenação dele à adoração dos ídolos. 

Os comerciantes da praça, e toda aquela chusma que vivia ao redor da Caaba, a pedra negra sagrada, (depois designada como Baitullah, a Casa de Alá na Terra) temiam que a pregação contra a idolatria afastasse os visitantes, estragando-lhes o negócio.


Já naquela época, Meca, por ser o local onde se encontrava o sagrado poço de Zem-zém (do qual o avô de Maomé foi zelador), de onde, desde tempos imemoriais, jorrava água, era uma cidade que acolhia peregrinos vindos dos diversos cantos do deserto.

O desentendimento deles com Maomé, fez com que o profeta se retirasse para a cidade vizinha de Medina. Este movimento, chamado Hégira (fuga), assinalou a data da Nova Era (16 de julho de 622), ano um do calendário muçulmano. Entrementes, o número de seguidores (muhadjirun) aumentava, opondo-se aos que se negavam à conversão, os munafiqun (os hipócritas, os que não aceitavam a nova fé).

O embate final deu-se na "batalha do fosso", em Medina, quando a cavalaria enviada de Meca fracassou ao tomar de assalto as posições do Profeta. Esta vitória, ocorrida em 627, abriu caminho para o Tratado de Hodaibyia, de 629, que assinalou a capitulação dos habitantes de Meca, permitindo que o Maomé retornasse vitorioso à sua própria casa.

Neste espaço de tempo, o profeta passara por três fases distintas: inicialmente, numa época entremeada por meditações e dúvidas, ele fora o eleito por Alá como o seu Anunciante, depois revelou-se um comandante de homens, um general, um estrategista, para finalmente terminar os seus dias como um conquistador e um estadistas, aquele que lançaria as bases de um estado islâmico.

A região da Arábia na época de Maomé, isto é entre os séculos VI e VII, pertencia à periferia do Império Romano do Oriente (Bizantino), também considerada área de interesse marginal pela outra potência daquela época, o Império Persa (Sassânida). 





Maomé ensinando aos fieis


A Arábia, por sua vez, uma península de mais de 3 milhões de km2, nada mais era do que um imenso deserto, habitado aqui e ali por pequenas tribos beduínas que, com suas caravanas de camelos, cortavam suas areias, dunas e montanhas, em todos as direções daquele mundo desolado. Elas viviam em intermináveis conflitos, travando guerras entre si, ou pela posse dos oásis ou para vingar um saque a que foram submetidas. Cada uma das tribos tinha um culto em torno dos seus ídolos particulares.

Maomé, importando o monoteísmo de suas viagens, também trouxe na bagagem a ideia de um império da lei e da ordem. O resultado disso foi o Islã, a fusão de uma mística religiosa baseada num deus único, onisciente e onipresente, com um estado de lei e ordem comum a todos habitantes do deserto.

O seu objetivo era estabelecer a paz entre eles, sendo que o sentimento de fraternidade islâmica deveria superar os códigos limitados dos clãs e das tribos, convertendo-as numa Umma, isto é a imensa comunidade dos crentes em Alá.

Os preceitos da nova fé

O Islamismo é uma religião que chama a atenção por sua absoluta simplicidade. 



Talvez por ter nascido no deserto e não ter encontrado de imediato nenhum império poderoso que o acolhesse, como ocorreu com o cristianismo em Roma (tornado religião oficial em 390) e com o zoroastrismo no Reino da Pérsia, o Profeta dispensou os aparamentos litúrgicos mais rebuscados, bem como um cerimonial solene e pomposo, tão comuns às outras religiões.

Se bem que aceita a existência de alguns mensageiros divinos, não há santos nem outros intermediários significativos entre o muçulmano (aquele que se submete a Deus, o crente) e o Único (Alá). O fiel comunica-se diretamente com o Todo-Poderoso, perante quem todos são iguais, sem distinção de qualquer espécie. Frente a Alá, não há ricos nem pobres, nem nobres nem párias.

Na sua época, o islamismo foi o mais poderoso instrumento de igualitarismo entre os homens, pois a pregação da caridade e da fraternidade tornou-se uma ponte que ligava os extremos sociais e aplainava os preconceitos contra os pobres.

Maomé nunca se viu como divino, dotado com uma outra natureza que não fosse a humana. O Corão, livro sagrado do islamismo, composto de suras (capítulos) e versículos, foi-lhe inspirado por Alá, não se trata de um testemunho como os Evangelhos cristãos, mas sim as lições do próprio Único às quais o fiel deve recitar.

Maomé considerava-se o derradeiro profeta de uma linhagem que começara com Moisés (que trouxe a Torá), passara por Davi (que escrevera os Salmos), Jesus (que aparece nos Evangelhos) e ele, Maomé, autor do Corão.

Justamente por isso, por ele ser o último dos profetas históricos, ele os superou. A adesão do crente ao Islã verifica-se pela obediência e o comprometimento com o que se denominou os cinco pilares do muçulmanismo, a saber:

1) a declaração de fé em Alá (shahada):
La ilaha ila Allah                           Muhammadun Rasulullah (لاإله إلا الله محمد رسول الل لاإله إلا الل): "Não há outro Deus senão Allah e Maomé é o Seu Profeta”. Esta é a crença mais fundamental no Islam e é o primeiro pilar do Islam. Foi a mensagem de todos os Profetas, como Abraão, Moisés, Jesus e Muhammad. 
2) oração diária: 5 vezes (salat);
3) a peregrinação à Meca uma vez na vida (hajj ou Hégira);
4) a prática do jejum religioso (no mês do Ramadã);
5) e, finalmente, o compromisso com a caridade (em forma do dízimo, o zakat).

Alguns supõem que também faz parte das obrigações, entrando como o 6º pilar, a adesão à jihad, a guerra santa na defesa do Islã.

Jihad (جهاد)

Literalmente significa "luta." Qualquer esforço sério no caminho de Deus, para a justiça e contra a injustiça. Existem diferentes formas de jihad. Há uma jihad nafs (ou seja, que se esforça para resistir às tentações e purificar-se dos traços negativos). Há também a jihad física contra os transgressores e opressores que constituem uma ameaça física ou religiosa para os muçulmanos. 

A mesquita e a prece


Interior da mesquita de Córdoba

Tal como o judaísmo ensejou a sinagoga e o cristianismo a igreja, o islamismo também criou o seu próprio templo: a mesquita (do árabe mosqe, derivada de masjid, lugar onde se prostra).

A primeira delas foi fundada por Maomé em pessoa, na época em que esteve exilado na cidade de Medina. No chão dela encontram-se espalhados, em linha, os tapetes sobre os quais os fiéis fazem a prostração e rezam as orações, sempre voltados em direção ao mihrab, um nicho fixado na parede que indica a direção de Meca.

É obrigatório aos que a frequentam retirar o calçado em sinal de respeito como um gesto de purificação (deixa-se a poeira da rua na entrada). As preces são presididas por um imã, do alto de um minbar (púlpito), que também é o responsável pelo khutbah (o sermão), não havendo, porém, um corpo oficial de sacerdotes responsáveis pela liturgia.

Na mesquita não devem existir reproduções de figuras humanas ou animais, pois esta foi uma proibição expressa pelo Profeta. Em compensação ela pode ser decorada com passagens do Corão, escritas em bela caligrafia, ou ainda profusamente decorada com arabescos.

Para chamar o povo às preces, instalou-se no alto dos minaretes que cercam a mesquita, o muezim, que lá de cima avisa, com voz forte e ondulada, a hora da salaah (oração) que se divide ao longo do dia em cinco momentos: a fajr (ao amanhecer); a zuhr (ao meio-dia); a asr (durante a tarde); magrib (ao entardecer); e a ishha (à noite).

Em cada uma delas a recitação é:
1)           Allaabu Akbar (recitar 4 vezes: "Alá é o maior");
2)           Ash'hadu an laa ilaaha illallaah (recitar 2 vezes: "Sou testemunha de que não há nada senão Alá");
3)   Ash'hadu anna Muhammadar-rasulullaah ("Sou testemunha de que Maomé é o mensageiro de Alá");
4)           Haya 'alas-salaah ( recitar 2 vezes: "Venham rezar");
5)           Ilaya 'alal falaah (recitar 2 vezes: "Venham para Deus");
6)           Allaaku Akbar (recitar 2 vezes: "Alá é o maior");
7)           Laa ilaaha illallaah ( e uma vez: "Não há nenhum Deus senão Alá").

O Corão, livro sagrado do Islã

O Qu´ram (O Corão), livro sagrado dos muçulmanos, é um conjunto notável de ensinamentos de Alá transmitidos ao profeta Maomé ao longo da sua existência. 





Supõe-se que a maioria das 114 suras (capítulos), de que ele é composto, foram-lhe inspirados em Medina e Meca, sendo imediatamente registradas, copiadas e recitadas, pelos seus seguidores, entre os anos de 610, ano da conversão de Maomé, até a morte dele em 632.

Supõe-se que a maioria das 114 suras (capítulos), de que ele é composto, foram-lhe inspirados em Medina e Meca, sendo imediatamente registradas, copiadas e recitadas, pelos seus seguidores, entre os anos de 610, ano da conversão de Maomé, até a morte dele em 632.

Provavelmente outras passagens foram-lhe acrescentadas até o ano de 650. Como a linguagem de Alá nem sempre é facilmente entendida, suas alusões foram motivo do surgimento de uma ciência de interpretação, feita pelos doutores corânicos, os teólogos islâmicos.

O Corão é um imenso tratado moral e ético que serve para orientar o crente a encontrar o bom caminho, tentando fazer com que os homens reprimam os seus instintos piores, que resistam à maldade e à perversão, encontrando consolo e apoio nas palavras enviadas do além diretamente por Alá.

Escrito em árabe, a língua preferida pelo Todo-Poderoso, as cópias do Corão vão estimular várias escolas de caligrafia, cada uma delas procurando esmerar-se em tornar o texto uma obra de arte.

Por organizar-se ao redor de um só livro é que o islamismo terminou por considerar os outros "Povos do livro", como os judeus e os cristãos, como aparentados ao maometanismo, todos filhos de Abraão.


Símbolo do meio fértil crescente entre Meca-Medina onde nasce a estrela: O islamismo

Nenhum comentário:

Postar um comentário