Confúcio
(551-479
a. C)
NOME: Kung Fu Tsu
(ou Tse) (72 anos).
NASCIMENTO: 27/8/551
a.C. - Tsou (China).
MORTE: 479 a.C. - Qufu (China).
Filósofo e sábio
chinês, criador do Confucionismo. A filosofia de Confúcio sublinhava uma
moralidade pessoal e governamental, também os procedimentos corretos nas
relações sociais, a justiça e a sinceridade.
Estes valores ganharam
relevo na China sobre outras doutrinas, como o legalismo e o taoismo durante a
Dinastia Han (206 a.C. – 220). Os pensamentos de Confúcio foram
desenvolvidos num sistema filosófico conhecido por confucionismo.
Confúcio ponderou: “Um homem ético vê o que é justo numa
questão; um homem sem ética vê apenas como tirar vantagem” (Analectos IV. 16)
As regras éticas, que nos foram
deixadas por Confúcio, têm sua origem no Tao. Todavia, o confucionismo evoluiu
diferentemente do taoísmo, mas servem-se ambos das mesmas regras fixadas nos
ritos e rituais taoístas. Afinal, conduzir um copo com água obedece ao mesmo
ritual que conduzi-lo com vinho.
Lao-Tsé, fundador do Taoísmo,
ensinava uma compreensão do universo essencialmente naturalista e antissocial,
à qual se opõe Confúcio. Como resultado desse confronto, o taoísmo ficou em
oposição ao confucionismo. Naturalista e antissocial, o taoísmo acompanha a
doutrina do deixar fazer
contemplativo, recomendando tanto quanto possível o reencontro do homem com
a natureza. Cada um trabalha apenas para sua própria manutenção, na maior
simplicidade.
O confucionismo, progressista e
ritualista por excelência, pretende regrar e impelir, com o dinamismo da
vontade, a atuação política e social dos governantes em favor do que lhe parece
ser o bem comum. Para o confucionismo a força
das virtudes contém em si
mesma a sustentação das razões
éticas que justificam o poder. O exercício da autoridade decorre das
forças morais resultantes da materialização dessas ideias virtuosas.
As ideias primordiais contidas em
sete palavras básicas do pensamento de Confúcio nos revelam o sentido
profundamente ético e ritualístico de suas formas de pensar. São, de fato, os
parâmetros do procedimento humano, recomendados pelo pensador chinês. Ei-las:
Ø
Chung - fidelidade;
Ø Shu - altruísmo;
Ø Fen - humanidade;
Ø Yi - justiça;
Ø Li - decência;
Ø
Chih – sabedoria
Ø
Hsin - sinceridade, expressam as sete virtudes principais do
confucionismo.
AS PALAVRAS BÁSICAS PARA CONFÚCIO (Virtudes)
Chung: fidelidade
A fidelidade, como um ato de livre
manifestação de vontade individual, liga o amante ao ser amado, prende-lhe a
atenção e os sentimentos, e gera uma relação afetiva unilateral (amo porque
quero vê-la amada) ou bilateral (amo porque ela me ama).
Assim, o sentido da fidelidade conjugal expressa uma
ligação, no plano do abstrato, que não é materialmente ligada a nada mais senão
à ideia do vínculo da vontade dos cônjuges, que pode ser traduzida na
expressão: tenho fé nesta relação.
No sentido da fidelidade do súdito ao seu soberano, há da parte do súdito uma
ligação de fé, de confiança, em que o soberano, com mais sabedoria, poder e
força, irá fazer o melhor pelo súdito e por sua comunidade. Há uma fé latente
na validade da relação soberano-povo. A fidelidade se extingue quando o
soberano se mostra injusto ou incapaz.
A ideia confucionista de fidelidade não subsiste isoladamente,
mas se completa com as noções de compromissos mútuos, nas relações conjugais, e
na de compromissos gerais, entre o soberano e seus súditos. Por isso é que a
fidelidade pressupõe sempre um compromisso; o compromisso afetivo, histórico ou
contratual, que decorre do ajuste de vontades.
Nas três hipóteses, a fidelidade é
determinada pela palavra empenhada. Veja-se como exemplo, em nosso país, o
compromisso matrimonial prestado em voz alta pelos cônjuges diante de
testemunhas, de um juiz de paz, ou perante sua comunidade religiosa; também é
assumido através da palavra o compromisso cívico do cidadão com a Pátria no
juramento à bandeira, ou quando assume cargos públicos; ou quando se faz
presente na colação do grau de sua profissão e, finalmente, nos contratos,
quando se sujeita à palavra escrita e às condições do ajuste.
Manter e respeitar os compromissos
assumidos - este é o sentido fundamental
desta palavra para Confúcio. Fidelidade a Deus, à Pátria, ao amor, à justiça, à
decência, à sabedoria e à sinceridade nos leva, sem possibilidade de desvios, à
fidelidade a nós mesmos.
Com fidelidade a nós mesmos, a vida
adquire sentido e significado de responsabilidade perante os demais seres à
nossa volta, e agrada ao espírito, por mais que, às vezes, possam custar
sacrifícios ao corpo. A fidelidade a nós mesmos afasta e isola a noção da
irresponsabilidade.
O conceito aplica-se também à
honestidade com que se custodiam ou se guardam os valores, bens ou pessoas,
dando-lhes o destino ou a aplicação correta, em decorrência de compromissos,
encargos, funções ou trabalhos assumidos.
Num sentido genérico, fidelidade para consigo
mesmo é o respeito e a atenção que cada um dá a seus dotes pessoais,
desenvolvendo-os e ajustando-os aos objetivos de vida a que se propõe. A
fidelidade é uma virtude que integra o poder moral.
Temos a seguinte citação:
“Confúcio comunicou a seu discípulo
Zengzi, cognominado Shen: Shen, meus ensinamentos podem-se resumir em apenas
um”. Zengzi disse: “Sim!” Tendo saído o
Mestre, os outros discípulos perguntaram: “O que ele queria dizer?”. Zengzi
respondeu: “Os ensinamentos do Mestre reduzem-se a fidelidade, em relação a si
mesmo, e compreensão para com os outros” (Analectos, IV. 15).
Esta passagem tão famosa parece
expressar a ideia central do ensinamento de Confúcio. A resposta de Shen aos
seus colegas foi não apenas uma, mas duas ideias, que parecem ser centrais. O “Zhon”
é a fidelidade a si mesmo, a lealdade consigo mesmo. O ideograma, muito
sugestivo, mostra o centro de um coração: indicando a ideia de “estou dentro e
no centro do Eu para ser fiel e sincero comigo mesmo”:
Shu: altruísmo
Altruísmo tem sua raiz no vocábulo latino alter-a-um, que significa
outro. Em sentido genérico traduz os conceitos de abnegação e amor ao próximo,
opondo-se ao egoísmo. Traduz a ideia contida na capacidade que o indivíduo tem
de abrir mão dos próprios interesses, para se preocupar com os outros. Opõe-se
à ideia do procedimento pessoal que responde a interesses individuais,
colocando-os acima dos demais.
O altruísta é tido por generoso,
nobre e desapegado, chegando até mesmo, nas suas manifestações de heroísmo, a
sacrificar a própria vida por amor ao próximo. O verdadeiro altruísmo não nasce
de forma improvisada, mas é virtude adquirida na luta incessante entre a
individualidade e a coletividade, entre o eu e o nós. Para os altruístas o nós deve prevalecer sobre o eu, e não os outros sobre o eu, na exata medida em que o
termo é altruísmo e não alterocentrismo.
O ideograma sugere que o coração
está em comparação com outro coração: é a ideia de “e se outro fosse eu?”, de
compreender o outro se colocando no lugar do outro, e de "não fazermos aos
outros o que não gostaríamos que fizessem conosco".
Fen: humanidade
Vários são os sentidos que se pode
extrair da palavra humanidade. De um lado, é a natureza humana a
dar-nos, num sentido coletivista, a ideia de humanidade como todo o gênero
humano a ser preservado. Indica virtudes
morais, como: compaixão,
clemência e benevolência, opondo-se à desumanidade,
crueldade e impiedade.
O Confucionismo faz de Fen uma palavra forte, em harmonia com as
demais palavras fundamentais que enumera e significa a fidelidade do indivíduo
humano para com a natureza humana, respeitando-a em si mesmo e nos outros,
tratando-a com altruísmo,
justiça, decência, sabedoria e sinceridade, a fim de ver o homem numa
relação de respeito pelos indivíduos, harmonizada e sábia, objetivando corrigir
seus desvios e ajustarem-se uns aos outros mediante a compreensão das
insuficiências e imperfeições da natureza humana. Por certo que é também uma das componentes do poder moral.
Confúcio fez a seguinte apreciação
sobre o amor humano (Ren) em
sociedade: “Morar em um ambiente em que as pessoas se amem e respeitem
mutuamente (Ren) é a melhor coisa
possível. Não é nada sábio o homem que, podendo escolher, não mora em um
ambiente em que reine o amor e o respeito aos outros homens (Ren)” (Analectos, IV. 1).
Yi: justiça
O termo é fixado por Confúcio como
elemento fundamental de sua recomendação filosófica. A Justiça é uma das
virtudes que, enquanto virtude, é universal, terrestre, humana ou localizada em
comunidades. Existe para todos os homens, independentemente da cor, raça ou
religião. O conceito serve também as relações entre homens e plantas, animais,
astros e planetas.
Dar a cada um o que lhe pertence é um dos
sentidos que se empresta à ideia de justiça. Mas é manifestamente insuficiente,
eis que é vinculado à noção de propriedade, que é diferente da posse.
A vingar este conceito, quem nada tem nada
recebe. Reconhecer que o direito de cada um vai até onde começa o de seu
próximo é também noção insuficiente, na medida em que direito e justiça são
diferentes. Mas ambas as ideias coincidem num ponto: ambas expressam uma ação,
um fazer que pode chegar a ser uma ação de justiça, um fazer justiça.
A ação é sempre resultante de uma
vontade do agente ou de quem o dirige. Portanto, a ideia de justiça prende-se à ideia
de uma ação que distribui vontades e iguala, nivela ou harmoniza interesses.
Os princípios normativos dessa ação
é que devem ser estudados em relação à ideia, para que fique viabilizado e
compreendido o conceito de justiça. Pode ser observado, ao longo dos séculos,
que para os chineses a ideia de justiça prende-se à vontade do homem organizar-se para
fruir da vida em sociedade. Não há um conceito ontológico que satisfaça ou
delimite essa ideia.
Para Confúcio a justiça não é a simples
aplicação da lei aos fatos. É preciso que se avalie a concorrência das demais
virtudes através das quais possa ser encontrada a solução para as pendências.
Chung - fidelidade; Shu - altruísmo; Fen - humanidade;Yi - justiça; Li - decência; Chih - sabedoria e Hsin - sinceridade, enquanto expressam as
sete virtudes principais, são também as forças que compõe o quadro para que se
encontrem as soluções justas nas relações entre os seres humanos.
Confúcio propõe um sistema de poder
moral que não explica nem julga os fatos segundo um único parâmetro. Ajustar
uma conclusão é compor o contexto segundo os padrões ditados pelas sete virtudes, para assim achar qual é a
situação de equilíbrio que ponha em relevo o sentido da justiça.
De que serve aplicar a Lei, se não
se é fiel ao soberano e ao princípio que gerou a Lei? De que serve usar da Lei
se não se tem por objetivo a humanidade? A sinceridade, a sabedoria e a
decência são intimamente relacionadas com as pretensões dos que buscam a
Justiça, e entre si interdependentes.
A aplicação da Lei sem humanidade,
sem altruísmo, sem sabedoria, sem decência, sem sinceridade e sem fidelidade
não faz, nem é Justiça; pode ser sentença, mas nada mais do que uma
manifestação pobre, injusta e indesejada da opinião irresponsável do juiz.
Li: decência
Esta ideia, para nós ocidentais, tem
passado desapercebida nas instruções escolares. Liga-se à ideia dos rituais e de
seu valor. É Li, ou seja, decência. A
decência é a virtude que decorre da compatibilidade entre o procedimento e suas
causas e os ritos e rituais em que ele se desenvolve.
O que é decente para uns, é
indecente para outros. Muitas vezes confundimos decência com moralidade. O
sentido de decência nos sugere estar e proceder de acordo com os ritos e
rituais que regem o comportamento no local onde nós nos encontramos.
Andar nu entre os índios primitivos
que adotam esse comportamento como normal e ritualístico da sua vida natural,
não é indecente. Fazê-lo nas cidades, sejam ocidentais ou orientais, numa
igreja ou cerimônia cívica, é extremada indecência. Participar nu de uma sessão de sauna mista, em alguns países, é
indecente. Em outros, é regra.
A decência é relativa ao ambiente e
ao contexto em que o indivíduo se encontra. No latim, decere tem forte conteúdo moral, ligado aos costumes. Significa
estar conforme as regras da honestidade e se refere também ao comportamento que
respeita as regras do pudor, tanto nos modos de agir e de vestir, quanto aos
gestos e às palavras.
No contexto do confucionismo, em que
os rituais constituem peça essencial para o convívio social, o termo decência significa estar de acordo
com os ritos e rituais, utilizando-os de acordo quanto à forma e o
propósito.
Há harmonia entre a sinceridade e a
decência, em que a intenção é levada em conta para a qualificação do
comportamento. Infere-se a norma ética contida na ideia de que o homem deve agir de acordo com a decência e a sinceridade,
para que se torne respeitado e consiga o seu espaço na sociedade.
Chih: sabedoria
A noção de sabedoria prende-se à
ideia contida no adjetivo sábio.
Para muitos, a compreensão do fenômeno vida é o acúmulo de cultura
memorizada, numa constante vontade de aprender e perceber o que se passa à sua volta.
As demonstrações de humildade, de caráter bom
e firme, de espírito de justiça, de prudência e de decência tornam o indivíduo
sábio. Nenhuma manifestação isolada de qualquer dessas qualidades substitui o
conceito geral e genérico: a ideia de sabedoria liga-se ao conhecimento em
geral, e não necessariamente, ao específico.
A sabedoria pode incluir a cultura,
mas não necessariamente um homem culto é um homem sábio. E nem por ser inculto
um indivíduo, necessariamente, deixa de ser sábio.
Sábio é o homem que alia a prudência
ao bom senso e à vontade de ser justo. Também o é aquele que
parte do pressuposto da humildade intelectual: "Eu sou sábio porque sei
que nada sei".
A sabedoria é mais do
que a instrução que pode tornar o homem culto e capacitado na técnica; é mais
do que a educação que forma e dirige a personalidade; é mais do que o
conhecimento que o torna bem informado: a
sabedoria é a qualidade que ajusta o ser humano às suas condições de perceber e
aprender, sem revolta, ansiedade, angústia ou violência; que harmoniza o homem
com a natureza e o seu contexto, e lhe dá o sentido e o significado da vida.
A sabedoria, para Confúcio, é a somatória da fidelidade, da
humanidade, da sinceridade, da justiça, do altruísmo e da decência.
Hsin: sinceridade
O indivíduo é sincero quando revela,
na aparência, o mesmo que pensa dentro de si mesmo. Há sinceridade quando o que
o indivíduo pensa corresponde ao que ele faz. A
sinceridade é expressa na confirmação, pelas ações, das intenções pelas quais o
indivíduo se deixa motivar.
Para que haja
sinceridade deve haver uma correspondência de semelhanças entre intenção,
vontade e causa subjetiva da ação. Quando a intenção ou propósito se identifica
com a ação, então esta é sincera e exterioriza franqueza e sinceridade do
agente.
Há sinceridade quando a pessoa é
decente porque quer sê-lo. Quando fiel é porque acredita na fidelidade como
virtude. E é sábio porque ama a sabedoria. Justo porque acredita na justiça.
Altruísta porque quer o bom para todos e não apenas para si mesmo.
Vem-nos, pois, do confucionismo, que o máximo poder moral
corresponde à reunião das virtudes no seu potencial máximo.
Apesar de abordado este estudo,
separando por conceitos e elucidando um a um como ensinou Confúcio em sua
época, as virtudes não são características isoladas e trabalham conjuntamente.
Para Confúcio, um homem completo
seria aquele que possuiria todas estas virtudes resumidas nestas palavras e
conceitos-chave. A apresentação de um ou outro ideograma foi necessária, uma
vez que a escrita mandarim é baseada em desenhos, representações ricamente
significantes.
Após ter estudado as virtudes fica
claro para o leitor ocidental que as virtudes confucianas ficam próximas das
aristotélicas, uma vez que o “bom-senso” é o objeto de perseguição destas duas
doutrinas.
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