De acordo com a tradição,
para os budistas a vida dos seres sensíveis começa no momento da concepção,
quando a consciência de um ser "entra" na união do óvulo e do espermatozoide
dos pais.
Sendo que a vida começa no momento da fecundação, acredita-se que não há diferença qualitativa entre um aborto praticado durante o primeiro trimestre e um aborto tardio. Apesar de o feto não ser considerado possuidor de uma "personalidade completamente desenvolvida" no sentido ocidental da palavra, é reconhecido como uma "pessoa", já que apresenta as cinco características que permitem determinar a identidade pessoal: forma, sentimentos, percepções, formações kármicas e consciência.
Segundo o primeiro dos cinco preceitos budistas (abster-se de matar, tanto insetos quanto seres humanos), o aborto é proibido. Considera-se que a vida começa com o surgimento da consciência, e considera-se que os fetos possuem consciência.
O aborto - que mata o feto - coloca um sério dilema
pessoal nos planos moral e espiritual. Nos textos budistas indianos,
"matar" é compreendido como matar um ser "sensível", dotado
de consciência e, assim, com possibilidades de alcançar a iluminação.
As regras do Buda para sua comunidade de monges proíbem
também indicar o aborto. Os textos budistas não preveem direitos legais para o
feto. Também não mencionam o aborto em casos de violação, incesto, deformidade
grave nem violência mental, física ou emocional.
O 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, manifestou em 1992 uma
opinião controversa e pouco ortodoxa:
"Poderiam existir situações nas quais, se sabemos
que a criança terá uma incapacidade severa ou que padecerá grandes sofrimentos,
o aborto seria admissível. No entanto, em geral, abortar é matar uma vida e
isto não é apropriado. O principal fator a se levar em conta é o motivo."
Do ponto de vista budista, tal posição implicaria a
faculdade de discernir as vidas passadas e futuras de um ser, o que é uma
capacidade pouco comum. A generalização do Dalai Lama é abusiva.
A visão tradicional budista leva em conta a felicidade da
criança não nascida e da mulher grávida, não só nesta vida, mas também em todas
as futuras reencarnações. Isto supera a capacidade das pessoas comuns.
Buda ensinou uma ética
da responsabilidade pessoal, segundo a qual cada pessoa assume a plena
responsabilidade dos atos que realiza e de seus resultados. Para determinar se
uma ação é boa ou má, a ética budista leva em conta três elementos implicados
em uma ação kármica. O primeiro é a
intenção que motiva o
ato, o segundo é o efeito que experimenta o agente como consequência de seu ato e o
terceiro é o efeito que experimentam os
demais como resultado
desse ato.
Estes preceitos
morais budistas são baseados no Dharma (lei natural da vida santa) e expressam
valores eternos como compaixão, respeito, temperança, honestidade e sabedoria. Neste sistema, os indivíduos escolhem livremente suas
decisões éticas, sabendo que as boas ações levam à felicidade, e as más ao
infortúnio - a menos que sejam purificadas por práticas espirituais.
No tocante à contracepção,
o budismo não formula objeções, desde que não tenha havido fecundação e, como
consequência, que não exista um ser vivo comprometido. Os métodos contraceptivos com efeitos abortivos (como os
dispositivos intrauterinos e os hormônios) não integram esta categoria, mas são
considerados abortos (GOOGLE, Acesso em 1°/07/15). Há, no entanto, um certo respeito à decisão
individual e médica (aborto terapêutico, por estupro, etc.), havendo certas
divergências entre as diversas escolas budistas (BIAGI; PEGORARO, 1997, p.
371-378).
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