Definir vem do latim definire (de-finis): delimitar, pôr limites, circundar.
Antes
de definir a Teologia Moral Fundamental, deve-se saber o que significam alguns
termos afins à Moral Fundamental, a saber: ethos,
moral, moralismo, ética, alteridade bem como a relação entre eles.
1)
ETHOS:
a)
Definições:


Noutras palavras, o ethos é
uma matriz (própria) de percepção,
apreciação e ação que nos permite viver assim
(não diferentemente), organizando e corrigindo constantemente os resultados
obtidos no presente, integrando as experiências do passado, surgindo uma
“bagagem-elã da vida”.
b)
Origem do ethos:
Esse sistema de disposições adquiridas
(motivações, mitos, símbolos, valores, contravalores, normas, etc.) existe
desde que surgiu o homem na face da terra, integrando à sua vida experiências
passadas da humanidade e as fazendo “diferentes” de seu “primo”, o macaco que
tem o sistema fechado
(biopsiquicamente), agindo somente dentro dos condicionamentos genéticos (ou
adestrados!), enquanto que o homem tem um sistema fechado (animal) e aberto
(homem), biopsíquica e espiritualmente falando.
c) Presença do ethos:
O ethos se encontra na vida diária de cada
pessoa, na sabedoria popular, nos provérbios, nos folclores, na religiosidade,
nas cosmovisões e noutros domínios do homem.
d)
Funções do ethos: O ethos
serve para:
Ø compreender
a raiz profunda do humano;
Ø alicerçar
e sustentar o ser humano,
independente de sua condição no tempo-espaço;
Ø fazer
sugir a cultura (colligere: cultivar, juntar, colher), o direito, as normas, a
religião;
Ø apontar
para a identidade mais profunda do
homem, apesar de suas máscaras (Jung);
Ø apontar
para o ethos cristão (homem: imagem e
semelhança de Deus) que Jesus Cristo
tornou tesouro com a junção do divino com o humano
em sua natureza, destruindo as máscaras e indicando a plena realização do ser
humano, coroada com a dimensão moral e cristã [1].
2 – ÉTICA:
Definições:



Noutras palavras, Ética seria uma moral não
religiosa, nova, aberta, reflexiva, dinâmica, prospectiva, capaz de ir
depurando sua fundamentação e codificação e ajudando a Moral a ir se
atualizando, a ir se abrindo e a ser mais realista.
3
– MORAL:
a)
Definições:


Noutras palavras, Moral é o jogo ininterrupto entre o desejo (não tanto conhecer → Ética) do homem em perdurar
(devir: “vir-a-ser” homem), buscando a realização
mais plena, através de regulamentos
externos, fazendo, no seio da finitude e contingência, escolhas relativas (não absolutas), modestas (não prepotentes: Hitler) e únicas (o homem é único!) que, positivamente, permitem atingir o
Absoluto (Deus: plena realização: visão religiosa), pela vivência de valores desejáveis e possíveis, sem cair no crasso relativismo, nem no irreal absolutismo, preservando a dimensão legal (leis do país), moral
(crescer :
humanizar-se) e espiritual (sentir a
ternura de Deus) do ser humano, no seu “vir-a-ser” existencial (existência:
essência!), perseguidor de uma maior humanização e realização[3].
Em síntese, a Moral
é o jogo da liberdade humana, em busca de seu próprio bem e não o limite e a
restrição de sua liberdade como se viveu tempos atrás. É uma tensão entre o já
realizado (eu existo) e um “a fazer” (quero ser e viver feliz), sendo a ação
não o fim, mas o instrumento da Moral e o ethos
o seu substrato arqueológico inconsciente.
b) Origem da Moral:
É a existência histórica e
concreta (nascer-crescer, realizar-se, morrer) do homem, buscando a sua
realização, esse homem semelhante às “primícias das criaturas de Deus (anjos),
como dizia São Tiago (Tg. 1,16) e não a partir de uma revelação, princípios e
valores”. É o homem “projeto” (pro-iectare:
jogar-se para o fim) que interessa e não o conjunto de normas e valores ou
revelação.
Por isso, segundo Santo Tomás
(ST, Ia, IIae, q. 94), a Moral é fundamental
ao homem, em sua existência concreta
(ex-sistere: estar diante do Uno).
Segundo Píndaro, poeta grego, a origem
da Moral “é tornar-se aquilo que você é”, i. é, o existir do homem como consciência,
liberdade e pessoa (no grego → prósopon (πρόσωπον): máscara; no latim →: per-sonare: soar através de → pessoa, Deus soa através do outro, no Cristianismo → Mt. 25,31-46!).
Para Aristóteles, a origem
da Moral está no estabelecimento de relações
entre a natureza do homem
(nascer-viver) e o seu fim (realização)
e não algo externo a si mesmo. Para
ele, “ser moral” é sobressair-se em humanidade.
c)
Presença da Moral:
Na vida global do homem, a Moral assume, em
diversos campos, vários matizes:
ü legalista:
enfatiza a moral mais como “produtora” de leis e normas, muito comum nos
radicalismos religiosos (cristão : Inquisição e islâmico: xiísmo: Bin Laden,
etc.);
ü personalista:
busca orientar a pessoa em suas atitudes de vida e em suas opções fundamentais;
ü dinâmica: leva
a construir um mundo melhor, mais humano, fundado na justiça, liberdade,
transparência e dignidade, unindo as diferentes dimensões do ser humano que, em
conjunto, colaboram para a sua felicidade e realização;
ü axiológica: a
ligação da Moral com o ethos deve ser
baseada em valores e não contravalores, já que o ethos engloba os dois.
No Brasil, por exemplo, ou se
assume o ethos de valores sérios
(bondade, justiça, compaixão, solidariedade, etc.) ou os contravalores da submissão (Casa Grande e Senzala) e resignação (mais sofreu Jesus!) ou a
arrogância do poder, privilégios e mordomias (os ricos de hoje e da Casa Grande
e Senzala) ou os contravalores atuais: esperteza, jeitinho brasileiro,
malandragem, corrida pela “sorte” (loterias que proliferam), pistolão,
apadrinhamento, “troca de favores”, clientelismo e outros.
d)Funções
da Moral:
A Moral serve como:
Ø
base para uma vida verdadeiramente humana;
Ø
ajuda para traçar os caminhos da realização e
da felicidade de todos;
Ø
ensino (doutrina) que leva a investir na
qualidade de nossas relações (4 tipos acima!), na busca de um mundo novo,
imanente e transcendente, comportando um conjunto organizado, sistematizado e
hierárquico de regras e valores de um grupo social ou religioso;
Ø
reflexão (ciência) sobre os fundamentos da ação e decisão do ser
humano;
Ø
busca prática
de um caminho possível e necessário à realização humana, ao nível pessoal,
comunitário, social, ambiental, ecumênico, evitando o anárquico laxismo moral ou o intragável moralismo.
4 – MORALISMO:
Para a Moral não cair na armadilha dos
contravalores e do Moralismo, ela precisa da Ética: horizonte crítico e
depurador dos valores e regras. E o que é Moralismo?
a)
Definição de Moralismo
Moralismo
é
o contrário de Moral. É a estagnação da
vivência de novos conteúdos e
objetivos que não realizam o homem e provém de duas atitudes bem comuns entre
os moralistas: a) o processo dedutivo (parte
de cima para baixo), fixando-se a
atenção no conteúdo moral, absolutizando-o e objetivizando-o e o fazendo descer
ao homem, surgindo disso a Casuística; b) o Irrealismo.
§
Dedução:
Exemplo: “É proibido mutilar-se” (não querer viver); Ora, doar um rim para um
transplante é uma mutilação; Logo, é uma coisa má e proibida” Outro exemplo:
“Não matarás” (quer que os outros vivam); Ora, uma célula fecundada é um ser
vivo; Logo, qualquer forma de aborto é um crime e é proibido”.
v E
por que não é proibida a morte por uma grande causa? Martírio ! Guerra!
§
Irrealismo:
Os
princípios gerais não servem para
muita coisa (ST: Ia, IIae). A moral nasce na prática e se elabora na prática. É
uma ciência indutiva (de baixo para cima: do real para o ideal) e não dedutiva.
b)
Critérios do Moralismo:






N.B: O Moralismo não tem consistência interna
capaz de resistir a uma lógica sadia!
ü CONSIDERAÇÕES
MAIS SIMPLES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE ETHOS, ÉTICA E MORAL (PRÁXIS CRISTÃ, v. I).
→ RELAÇÃO ENTRE ETHOS,
ÉTICA, MORAL E VIDA CRISTÃ:
As relações entre as diversas
esferas, já estudadas, são as seguintes:
a)
Ethos
versus Ética: As funções da Ética em relação ao Ethos
são:
Ø Identificar
nele (ethos) a sua riqueza constante, na vida de um povo, e auxiliar em sua
verdadeira interpretação;
Ø Exercer
um serviço de discernimento sempre que nele existir contravalores, num trabalho
de depuração desse substrato.
b)
Ethos versus Étca
versus Moral: A Moral está ligada ao Ethos, mas necessita
da Ética (depuradora: reflexão crítica) para que a Moral não caia nas malhas de
interesses dominantes, sistemas dominadores e exploradores, fechados
(Moralismo), incapazes de responder às novas
situações da vida.
c)
Ética
versus Moral: Há uma identidade semântica, sendo termos
correlatos. A questão do Bem (bom) pode ser vista como:
Ø Substantivos (Ética:
caráter, prática; Moral: princípios e normas mais normativos e um tanto
abstratos e duradouros): específico conhecimento (ou conjunto interdisciplinar
de conhecimentos) que versa sobre o bom;
Ø Adjetivos:
(ético-moral): expressam uma qualidade (i-moral:
interpretação qualitativa; a-moral:
interpretação sócio-antropológica; permissivo:
tolerância sócio-jurídica) ou dimensão da realidade quando essa se refere à
responsabilidade das pessoas [5].
d)
Moral versus
Vida cristã: Existe uma Moral cristã?






A fé exige, valoriza,
retifica e relativiza a moral que é a melhor preparação para a fé e é o lugar
de fé vivida (Tg. 2,14-17).
Por exemplo, o dever moral mais profundo, importante e
específico de um chefe de família consiste em “manter equilibradas e ajustadas
as telhas do seu teto: moral de subsistência que remete a uma moral econômica e
política que, por sua vez, está ligada ao modelo de progresso vigente
(socialista, capitalista).
Veja o caso do Brasil, de Cuba!
SÍNTESE:
§ ETHOS:
costume primitivo sem reflexão! Austrália: etos primordial!
§ ÉTICA:
Reflexão sobre o Etos: conjunto de normas e atitudes dinâmicas!
§ MORAL:
conjunto de normas mais perenes, baseadas numa religião!
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