Panorama dos povos indígenas (Coimbra
Jr. 1996)
Estima-se em aproximadamente 220.000 a
população indígena no país, com cerca de 60% deste contingente vivendo na
Amazônia. Um aspecto a ser destacado é a grande diversidade sociocultural.
São mais de 170 etnias, com sistemas sociais e políticos próprios, vivendo em aldeamentos, postos indígenas, missões religiosas e até mesmo na periferia de cidades.
São mais de 170 etnias, com sistemas sociais e políticos próprios, vivendo em aldeamentos, postos indígenas, missões religiosas e até mesmo na periferia de cidades.
Do ponto de vista linguístico, o panorama é igualmente complexo, com um número superior a 150 línguas. Deve-se ainda chamar atenção para a heterogeneidade quanto à história e situação de contato destes grupos com a sociedade nacional.
Enquanto alguns ainda mantêm-se relativamente mais isolados, outros participam com diferentes graus de envolvimento na economia de mercado.
Tamanha diversidade implica que a categoria "sociedade indígena" é algo complexo e multifacetado, englobando populações com características socioculturais e trajetórias históricas diversas.
Ética geral
a)
Ética e comportamento entre
os Kalapalo
É central para a vida social um ideal de comportamento
chamado ifutisu, que remete a um
conjunto de argumentos éticos pelos quais os Kalapalo distinguem os povos do
Alto Xingu de todos os outros seres humanos.
Em um sentido mais geral, ifutisu pode ser definido como uma ausência de agressividade pública - por exemplo, ser habilidoso para falar em público e não provocar situações que causem desconforto aos outros – e pela prática da generosidade – como a hospitalidade e a predisposição para doar ou partilhar posses materiais.
Os Kalapalo acreditam que a viabilidade da sociedade depende do cumprimento desse ideal.
Em graus variados, esse conceito se estende para todas as áreas da vida social, sendo aplicado para relações entre grupos locais, consanguíneos, afins, homens e mulheres, e mesmo entre humanos e não humanos.
A demonstração do comportamento ifutisu também confere prestígio e, portanto, é importante na distribuição do poder político. Esse ideal é manifesto em um complexo singular de comportamentos e concepções que os Kalapalo afirmam ser distinto do de seus vizinhos tradicionais.
Antes do estabelecimento das fronteiras do Parque e do contato permanente com os brasileiros, povos indígenas agressivos rodeavam a bacia do Xingu e, ocasionalmente, confrontavam-se com os grupos locais.
Relações entre os Kalapalo e alguns desses grupos – especialmente os Jaguma, que viviam ao leste do rio Tanguru (tributário do Alto Kuluene) – eram, ocasionalmente, amigáveis, porém mais frequentemente conflituosas.
Os Kalapalo chamam esses povos e, de modo geral, quaisquer índios que não fazem parte da sociedade alto-xinguana, anikogo, "gente feroz" (de aniko, comportamento "feroz" ou "selvagem").
Essa categoria de "seres humanos" é concebida primariamente em termos de um tipo de comportamento rotulado como itsotu, que se refere à raiva e à violência. O comportamento itsotu é geralmente contrastado explicitamente com o comportamento pacífico e generoso, ifutisu, que é, para os Kalapalo, uma característica importante e distintiva da categoria "gente da sociedade do Alto Xingu" (kuge, ser humano).
O segundo meio importante pelo qual os Kalapalo distinguem os kuge de outros seres humanos é um conjunto de práticas alimentares que refletem o comportamento ifutisu. O aspecto mais significativo disso é um sistema em que as "coisas viventes" (ago) são classificadas de acordo com um critério de comestibilidade.
Os Kalapalo geralmente rejeitam animais terrestres "peludos", que eles chamam de nene, e comem aqueles que eles chamam de kana, criaturas aquáticas (especialmente os peixes).
Além desse princípio geral, há restrições específicas para pessoas em situações de crise de vida, particularmente os adolescentes. A importância desse sistema alimentar é reforçada pela ideia kalapalo de que a aparência física é uma marca dos sentimentos internos.
Assim, a beleza física, acompanhada pela obediência a restrições alimentares e práticas médicas, é um sinal de beleza moral. Nos mitos kalapalo, meninas e meninos na puberdade, frequentemente, encenam papéis de perfeição moral que contrastam com o mau comportamento de suas relações adultas.
b)
Ética
em geral nas tribos brasileiras
Ø SOCIEDADES
SOLIDÁRIAS
As sociedades indígenas são organizadas a partir dos princípios de solidariedade, partilha e generosidade entre os membros da tribo. Essas atitudes éticas abrangem a todos e em muitos casos até mesmo os inimigos.
Com certeza, esse é um exemplo a ser aprendido e seguido pela nossa sociedade marcada pelo individualismo, ganância, competição e consumismo desenfreado.
Ø OS
INDÍGENAS NOS PRIMEIROS TEMPOS DA COLONIZAÇÃO DO BRASIL E NOS DIAS DE HOJE
Nos primeiros tempos da colonização do Brasil, os povos indígenas eram vistos a partir do olhar dos dominadores de então, como “gente sem fé, sem lei, sem rei”. Assim, projetava-se a sociedade indígena em termos daquilo que lhe faltava, na opinião dos europeus. Os europeus queriam a todo custo impor-lhes a sua cultura e religião.
Com o decorrer do tempo percebeu-se que o índio era resistente, ele tinha convicção quanto às suas próprias crenças e mitos. Assim, o catolicismo daqueles tempos encontrou dificuldades em converter os índios que, segundo o pensamento vigente, não tinham Deus, nem hierarquia, nem disciplinamento litúrgico.
A opressão encontrou seus caminhos e a dominação se deu através da introdução da cachaça, pois o entorpecimento e dependência favoreciam a conquista de seus corpos e almas.
Através de doenças, contaminando previamente roupas e cobertores que seriam presenteados aos índios, esses “selvagens teimosos” eram, então, dizimados. Também através de castigos, surras, acorrentamento e palmatória, juntamente com a exploração de mão de obra, desvirtuamento de seus costumes, e é claro, através da evangelização, toda a cultura religiosa nativa era desvalorizada e substituída pelo catolicismo de então.
Os índios ou brasilíndios eram vistos como o “outro diferente”, que representava ameaça, por isso, na visão dos colonizadores deviam ser convertidos, catequizados e dominados.
Pelo fato de se recusarem a aceitar as condições impostas foram perseguidos, escravizados e muitos foram mortos com crueldade. Nações inteiras foram dizimadas, sua cultura, tradição e sabedoria perdidas para sempre.
Toda a riqueza cultural e sabedoria do povo indígena não foram respeitadas nem compreendidas pelos invasores portugueses que diziam ser o índio apenas um animal com corpo humano, mais ou menos como a mulher e o negro também foram vistos.
Ainda hoje não é raro haver comentários pejorativos direcionados a momentos específicos de ritualização dos índios e negros. Provavelmente você irá se lembrar de expressões como: Isso é coisa do diabo! Deus não gosta disso! Toda essa gente vai para o inferno! São pagãos que precisam ser convertidos à fé cristã!...
Esta sempre foi uma forma de exercer a superioridade e a posição de dono da verdade a custo de denegrir e inferiorizar o “outro”, atitude que ainda hoje se repete em nossa sociedade, em relação aos índios de hoje e às minorias excluídas.
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