terça-feira, 5 de julho de 2016

RITUAIS DO CANDOMBLÉ


(Do livro “O Essencial do Candomblé”, de Ademir Barbosa Júnior)

A fim de apresentar algumas das principais cerimônias do múltiplo e diversificado universo do Candomblé, foram selecionados alguns rituais da Nação Ketu, os quais, de uma maneira ou de outra, também aparecem na liturgia das outras Nações.

Para diversos rituais do Candomblé, inclusive os xirês (cantos e danças aos Orixás), pede-se a abstenção de álcool e que se mantenha o “corpo limpo” (expressão utilizada em muitos terreiros e que representa se abstenção de relações sexuais).

No caso da abstenção de álcool, bem como de alimentos específicos, quando assim solicitada, o objetivo é manter a consciência desperta e não permitir abrir brechas para espíritos e energias com vibrações deletérias.

No tocante à abstenção sexual, a expressão “corpo limpo” não significa que o sexo seja algo sujo ou pecaminoso: em toda e qualquer relação, mesmo a mais saudável, existe uma troca energética; o objetivo da abstenção, portanto, é que o médium mantenha concentrada a própria energia e não se deixe envolver, ao menos momentaneamente, pela energia de outra pessoa, em troca íntima.

O período dessas abstenções varia de casa para casa, mas geralmente é de um dia (pode ser da meia-noite do dia do trabalho até a “outra” meia-noite, ou do meio-dia do dia anterior ao trabalho até as 12h do dia seguinte ao trabalho etc.).

Há períodos maiores de abstenções chamados de preceitos ou resguardos. 

Ipadê:

Ipadê é o ritual que antecede todos os demais, no qual o Orixá Exu é firmado como guardião do Axé, a fim de proteger a casa e as pessoas. Para tanto, são utilizadas comidas típicas de Exu, como o padê (farofa especialmente preparada), vela e água.           Após cantos e danças, a quartinha com água, a vela e o padê são levados para fora do barracão.  Os demais rituais têm prosseguimento.

Embora o padê se dirija antes de tudo a Exu, comporta também obrigatoriamen- te umas cantigas aos Eguns (antepassados), alguns dentre eles sendo mesmo designados por seus títulos sacerdotais. 
O objetivo principal é retirar o ajé (Energias negativas) e reverenciar os ancestrais, Eguns, Egunguns, Baba Eguns, em especial, as grandes mães ìyàmi òsòrònga e Opaoka e Ajé Shaluga.



Ipadê: despacho para Exu

Muitos candomblecistas consideram o Ipadê como o ato de despachar Exu, isto é, afastá-lo, a fim de não provocar confusões. Tal concepção aproxima-se mais da mitologia iorubana do que propriamente da Teologia e da Espiritualidade do Candomblé.

Em ioruba, pàdé significa reunião. A distinção entre ipadê e padê não é consenso em todas as casas.
  
Xirê (canto e dança aos Orixás):

Por meio do canto e da dança, os Orixás são reverenciados e convidados a participarem da festa. Também conhecido como roda de Candomblé

Em português, xirê pode ser traduzido como festa, brincadeira (1)

Rum:
      
Trajados e paramentados com seus instrumentos, os Orixás dançam e reproduzem seus mitos e lendas. Trata-se da parte final de um xirê.

Provavelmente a denominação dessa parte da festa origina-se do nome do maior dos três tambores no Candomblé Jeje-nagô, o rum.

Sassayin:

Sassayin, Sassaim ou Sassanha é o nome que se dá ao ritual de cantar as folhas sagradas ou rezar as folhas, com cantigas específicas para cada folha, reconhecidas pelo nome da folha (ewe) e seu conteúdo que é o atributo da folha, utilizado principalmente na preparação do abô, na feitura de santo para retirar a energia vital das folhas e extrair o seu sangue (sumo)"sangue de origem vegetal", no sentido de purificar e alimentar os objetos sagrados e o corpo dos iniciados, possibilitando o equilíbrio e a renovação das energias.

Axexê (Asesê):

O axexê é um conjunto de rituais funerários celebrado quando morrem pessoas importante de um terreiro, notadamente os pais e mães-de-santo.

Em iorubá, àjèjè significa uma cerimônia celebrada quando da morte de um caçador.
 
É uma cerimônia realizada após o ritual fúnebre (enterro) de uma pessoa iniciada no candomblé. Tudo começa com a morte do iniciado, chamado de última obrigação.     Este ritual é especial, particular e complexo, pois possibilita a desfazer o que tinha sido feito na feitura de santo, é bem semelhante ao o processo iniciático chamado de sacralização, só que agora este procedimento é uma inversão chamada de dessacralização, no sentido de liberação do Orixá protetor do corpo da pessoa.

Sacrifício:

Sacrifício é a prática de oferecer como alimento a vida de animais às divindades, como ato de propiciação ou culto. O termo é usado também para descrever atos de altruísmo, abnegação e renúncia em favor de outrem.

Esse sacrifício não é só uma oferenda aos Orixás. Todas as partes do animal vão servir de alimento, nada é jogado fora. O couro do animal é usado para encourar os atabaques, o animal inteiro é limpo e cortado em partes, algumas partes são preparadas para os Orisás e o restante é destinado aos demais.

Tudo é aproveitado: até a porção oferecida aos Orisás é posteriormente dis- tribuída entre os filhos da casa, é usada para confraternização: unem-se os filhos a comer com o pai ou mãe, havendo repartição do Asé gerado pelo ori-
sá. 

Paná e kitanda: reaprendizado

Durante os ritos de iniciação, a pessoa é devidamente isolada mantendo contato somente com pessoas preparadas para cuidá-la; toda atenção lhe é dedicada, sendo-lhe destinada uma mãe criadeira também denominada de ojú bòna, para lhe assistir em tempo integral.

Um iyawo equivale a uma criança nova, recém-nascida e merecedora de todos os cuidados, daí o iyawo também ser chamado de omotun, que quer dizer
“criança nova”.

Embora adulta e talvez bem vivida, a pessoa ao entrar para se iniciar transforma-se numa criança, pois é um ser novo que nasce para a religião. Por esse motivo, após o ritual do oruko, ou seja, do nome de iyawo, torna-se necessário um novo ritual: o reaprendizado das coisas, que no Candomblé de Ketu chama-se Paná e nos de Angola, Kitanda.

A palavra paná em yorubá significa “fim do castigo”, em referência à quebra da rigidez exigida durante o começo da iniciação (banhos, pintura, raspagem) e kitanda, em kimbundo, significa “feira, mercado”.

Essa maior liberdade é proporcionada pela presença de entidades chamadas no Ketu de ere. Estas entidades têm características infantis proporcionando ao iyawo um certo relaxamento e repouso.

Estes rituais paná (no Ketu) e kitanda (no Angola) representam em verdade a quebra das kizilas (reação negativa)  em que o iyawo estava submetido durante o tempo de recolhimento,é o reaprendizado dos gestos e ações do dia a dia. Por isso, são colocados objetos como: tesoura, lápis, linha, agulha, vassoura, copos, pratos, etc...

Grá (Djedje):

O Grá é uma divindade ou entidade violenta e agressiva que se manifesta na Vodunsi apenas na sua iniciação, próximo ao “dia do nome”, é acompanhado pelos Ogans, Ekedjis e algumas Vodunsis antigas que farão com que ele realize algumas penitências, fazendo-o cansar, e há um número certo de pessoas que poderão acompanhar este ritual.

Bori:

Bori é o ritual de alimentar a cabeça, o Ori (vimos acima que o Ori é tão importante como qualquer dos Orixás), para a iniciação religiosa, para equilíbrio, tomada de decisões, harmonização com os Orixás etc.

Em iorubá, borí pode ser traduzido como cultuar a cabeça de alguém.

Existem várias maneiras de fazer o ritual oferecimento ao ori (cabeça), pode ser oferecido quando há necessidade, em qualquer pessoa, independente de ter ou não que ser iniciada no orisá; é o ritual que harmoniza o ori, diminui a ansiedade, a dor, a tristeza, trazendo a esperança harmonia e alegria.

É uma das oferendas mais importantes que visa ao bem estar individual no candomblé, é sério, complexo e profundo.

O sacerdote tem que ter grande conhecimento e respeito em relação à questão do ori e da evolução humana.

Seu objetivo é de alimentar o ori, não tem prazo de validade, nem frequência determinada, devendo ser repetido sempre que se mostre necessário. O jogo adivinhatório determinará, através do odu, que material deverá ser usado no bori,e este material poderá ser desde apenas um copo d'água e um obi, até uma oferenda bem grande.


Bori feminino



Bori masculino

Casamentos:
      
Embora, como toda religião constituída, o Candomblé celebre casamentos, é comum também o filho de santo casar-se apenas no civil, ou o casamento religioso ser feito na Igreja Católica Apostólica Romana.

Sacudimentos:

Ritual de limpeza espiritual com o intuito de expulsar energias negativas de pessoa ou ambiente. Para tanto, empregam-se folhas fortes que são batidas na pessoa ou no ambiente (“surra”), pólvora queimada no local em que se realiza o ritual e comidas e aves em contato com a pessoa ou o ambiente, os quais serão posteriormente oferecidos aos eguns.  O ritual é completado com banho, no caso de pessoa, e com a defumação do corpo ou do local do sacudimento.

Obrigações

Cada vez mais se consideram as obrigações não apenas como um compromisso, mas, literalmente como uma maneira de dizer obrigado (a).

Em linhas gerais, as obrigações se constituem em oferendas feitas para, dentre outros, agradecer, fazer pedidos, reconciliar-se, isto é, reequilibrar a própria energia com as energias dos Orixás.

Os elementos oferendados, em sintonia com as energias de cada Orixá, serão utilizados pelos mesmos como combustíveis ou repositores energéticos para ações magísticas (da mesma forma que o álcool, o alimento e o fumo utilizados quando o médium está incorporado).  Daí a importância de cada elemento ser escolhido com amor, qualidade, devoção e pensamento adequado.

Existem obrigações menores e maiores, variando de terreiro para terreiro, periódicas ou solicitadas de acordo com as circunstâncias, conforme o tempo de desenvolvimento mediúnico e a responsabilidade de cada um com seus Orixás, com sua coroa, como no caso da saída (quando o médium deixa o recolhimento e, após período de preparação, apresenta solenemente seu Orixá, ou é, por exemplo, apresentado como sacerdote ou ogã) e outros.

Embora cada casa siga um núcleo comum de obrigações fixadas e de elementos para cada uma delas, dependendo de seu destinatário, há uma variação grande de cores, objetos, características.

Portanto, para se evitar o uso de elementos incompatíveis com os Orixás, há que se dialogar com a Espiritualidade e com os dirigentes espirituais, a fim de que tudo seja corretamente empregado ou, conforme as circunstâncias, algo seja substituído.

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