quinta-feira, 18 de agosto de 2016

CRISTIANISMO (Parte 8 - Luteranismo)


As 95 teses de Lutero em Wittenberg - Alemanha

O tema central da Reforma é a convicção de que o ser humano não pode nem tem necessidade de salvar-se por si mesmo. Antes, a salvação é dada em Cristo "unicamente pela graça" e aceita "somente pela fé". 

A redescoberta desse pensamento, biblicamente fundamentado, originou uma nova compreensão de todos os aspectos da vida cristã: da Igreja, do sacerdócio, dos sacramentos, da espiritualidade, da devoção, da conduta moral (ética), do mundo, incluindo aí a economia, a educação e a política. 

A ruptura gerada por esta redescoberta é o que chamamos de Reforma. Para entendermos a Reforma devemos conhecer melhor Martinho Lutero.


Martinho Lutero (*10/11/1483-+18/2/1541)

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483 na cidade de Eisleben, na Alemanha. Na sua fase estudantil, foi enviado às escolas de latim de Magdeburg (1497) e Eisenach (1498-1501).

Ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505).

Seu pai fora um aldeão bem sucedido e sonhava em ter um filho advogado. Tendo, assim, iniciado seus estudos de direito, abruptamente, os interrompeu entrando no claustro dos eremitas agostinianos em Erfurt. 

O fato que o levou a isto é bastante estranho e gera controvérsias. A maioria dos historiadores diz que isto aconteceu devido a um susto que teve quando caminhava de Mansfeld para Erfurt. Em meio a uma tempestade, quando um companheiro de caminho, ao seu lado, foi atingido por um raio, e ele por um pouco não fora também.

Contam que foi derrubado por terra e em seu pavor, gritava "Ajuda-me Santa Ana! Eu serei um monge!". Preocupado com a salvação, o jovem Martinho Lutero decidiu tornar-se monge, a contragosto da família. Porém, foi ordenado padre em 1507. 

Lutero estava galgando os escalões da Igreja Romana e estava muito envolvido em seus aspectos intelectuais e funcionais. Por outro lado, também estava envolvido em conflitos internos pessoais quanto à salvação pessoal. 

Sua vida monástica e intelectual não forneciam resposta aos seus anseios interiores, às suas aflitivas indagações. Durante seus estudos, sempre lhe acompanhava a pergunta: "Como posso conseguir o amor e o perdão de Deus?"

Entre os anos de 1508 e 1512, lecionou filosofia na Universidade de Würtenberg, onde também ensinava Teologia. Em 1512 formou-se Doutor em Teologia. Fazia também conferências sobre Bíblia, especializando-se em Romanos, Gálatas e Hebreus. 

Foi durante este período que a teologia do apóstolo Paulo o influenciou, levando-o à percepção clara dos erros que a Igreja Romana cometia, à luz dos documentos fundamentais do cristianismo primitivo: os livros da Bíblia.

Assim, Lutero foi descobrindo ao longo dos seus estudos que para ganhar o perdão de Deus não era necessário castigar-se ou fazer boas obras compensatórias, mas somente ter fé em Deus. Com isso, ele não estava inventando uma doutrina, mas retomando pensamentos bíblicos importantes que estavam à margem da vida da igreja já há muito tempo e que naquele momento gerava aberrações teológicas, tais como as indulgências. 

Seus estudos paulinos, porém, deixaram-no mais agitado e inseguro, particularmente diante da afirmação "o justo viverá pela fé", de Romanos 1:17. Pois ali ele percebia que toda a Lei e o cumprimento das normas monásticas serviam tão-somente para condenar e humilhar o homem, e que destas coisas não se pode esperar qualquer ajuda no tocante à salvação da alma.

Tornou-se pároco da igreja de Wittenberg, passou a ser um pregador muito popular, proclamando os rudimentos desta fé que redescobrira. Além disso, em sua pregação ele opunha-se a venda de indulgências, fortemente comandada por João Tetzel.

Lutero decidiu tornar públicas essas ideias e em 31 de outubro de 1517, quando afixou na porta da Igreja de Wittenberg, suas teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das Indulgências". 

Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à ideia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições temporais. 

Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do purgatório. Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos, durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação sacerdotal. 

Este material resumia a aplicação prática do mais importante de sua (re)descoberta teológica até aquele momento.

Com isto Lutero pretendia abrir um debate para uma avaliação interna da Igreja, pois acreditava que a Igreja precisava ser renovada a partir do Evangelho de Jesus Cristo. Em pouco tempo toda a Alemanha tomou conhecimento do conteúdo dessas teses e elas espalharam-se também pelo resto da Europa.

Foi João Eck quem denunciou Lutero a Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e excluído da Igreja Romana. Silvester Mazzolini, que era o padre confessor do papa, concordou com o parecer condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano. 

Embora estivesse sendo pressionado de muitas formas - excomungado e cassado - para abandonar suas ideias e os seus escritos, Lutero manteve suas convicções. Suas ideias atingiram rapidamente o povo e essa divulgação foi facilitada pelo recém-inventado sistema de impressão de textos em série (imprensa).

Após isto Lutero escreveu "Resolutiones", em 1518, defendendo seus pontos de vista contra as indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Mas a obra não mudou o ponto de vista do papa a respeito dele. Mas muitas pessoas influentes se declararam favoráveis às opiniões de Martinho Lutero. 

Num debate teológico em Heidelberg, em 26 de abril de 1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.

Lutero foi convocado a comparecer em Roma, onde seria julgado como herege. Porém ele apelou para o príncipe Frederico, o Sábio, e seu julgamento foi realizado em território alemão em outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano. 

Diante deles Lutero recusou se retratar de suas ideias, tendo rejeitado a autoridade papal, abandonando assim a Igreja Romana. Sua saída da Igreja ficou confirmada num debate com João Eck, em julho de 1519. 

A partir de então Lutero declara que a Igreja Romana necessita de Reforma e publica vários escritos, dentre eles, a "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã: Sobre a Reforma do Estado Cristão".

Assim, Lutero procurou o apoio de autoridades civis e começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes: Cristo como único Mediador entre Deus e os homens e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. 

Na obra "Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que pelas Escrituras só podem ser distinguidos dois sacramentos: O Batismo e a Ceia do Senhor. Opunha-se à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, que ocorreria a cada missa.

Em outro livro, "Sobre a Liberdade Cristã", ele apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor.

Em julho de 1520, a Igreja Romana expediu a bula Exsurge, Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado, a menos que se retratasse publicamente. 

Lutero queimou a bula em praça pública. Em resposta a isto, Carlos V, Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em praça pública.

Lutero se fez presente na Dieta de Worms, em abril de 1521. Recusando retratar-se, disse que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus, pelo que a retratação não seria correta. 

Dizem alguns historiadores que ele concluiu sua defesa com as palavras: "Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém". Como resposta, 25 de maio de 1521, formalizou-se a excomunhão de Martinho Lutero, e a Reforma também foi condenada.

A Reforma, porém, espalhou-se pela Europa. Em 1530, os líderes protestantes escreveram a "Confissão de Augsburgo", resumindo os elementos doutrinários fundamentais do movimento.
 
Por medidas de precaução, Lutero esteve recluso no castelo de Frederico, o Sábio, cerca de 10 meses; neste período deixou a barba e os cabelos crescerem e era chamado de Cavalheiro Jorge. Foi neste período que conseguiu tempo de trabalhar na tradução do Novo Testamento para a língua alemã. 

Esta tradução foi publicada em 1532. Com a ajuda de Melanchton e outros amigos, a Bíblia toda foi traduzida, e, então, foi publicada em 1532. Essa tradução tornou-se tão importante ao ponto de unificar os vários dialetos alemães, do que resultou o moderno alemão.

Outro fato digno de nota foi o casamento de Lutero, com Catarina de Bora, filha de família nobre e ex-freira, que havia aderido à Reforma junto de outras colegas de clausura que fugiram do convento. 

Tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham preferido adotar a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Em 1546, aos 62 anos de idade, Martinho Lutero faleceu. Porém, só em 1555, o Imperador reconheceu que havia duas diferentes confissões na Alemanha: a Católica e a Luterana.

Eis alguns pontos ético-morais mais importantes defendidos por Lutero:

1. Nem o papa nem o padre, tem o poder de remover os castigos temporais de um pecador;

2. A culpa pelo pecado não pode ser anulada por meio de indulgências;

3. Somente um autêntico arrependimento pode resolver a questão da culpa e do castigo, o que depende única e exclusivamente de Cristo;

4. Só há um Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo; 

5. Não há autoridade especial no papa;

6. As decisões dos concílios não são infalíveis; 

7. A Bíblia é a única autoridade de fé e prática para o cristão;

8. A justificação é somente pela fé; 

9. A soberania de Deus é superior ao livre-arbítrio humano; 

10. Defendia a doutrina da consubstanciação em detrimento da transubstanciação;

11. Há apenas dois sacramentos: o batismo e a ceia do Senhor;

12. Opunha-se a veneração dos santos, ao uso de imagens nas Igrejas, às doutrinas da missa e das penitências e ao uso de relíquias;

13. Contrário ao celibato clerical;

14. Defendia a separação entre Igreja e Estado;

15. Ensinava a total depravação da natureza humana; 

16. Defendia o batismo infantil e a comunhão fechada; 

17. Defendia a educação dos fiéis em escolas paroquianas; 

18. Repudiava a hierarquia eclesiástica.

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