quinta-feira, 18 de agosto de 2016

CRISTIANISMO (Parte 3 - Igreja Romana)

Estabelecimento da ortodoxia romana (Séc. IV-V)


Igreja de São João de Latrão: Santíssimo Salvador (9/11/324 d.C)- Catedral do Papa –Roma: A igreja-mãe de todas as igrejas católicas no mundo
     

Interior da Basílica patriarcal (ou arquibasílica) São João de Latrão


Constantino I, estátua nos Museus Capitolinos


Ícone retratando o imperador Constantino I (centro) e os bispos do Primeiro Concílio de Niceia (325) segurando o Credo Niceno-Constantinopolitano (381)

Galério que havia sido uma das principais figuras na perseguição, em 311 emitiu um édito que acabou com a perseguição de Diocleciano ao cristianismo. O édito foi proclamado de má vontade pelo imperador no seu leito de morte. Após a suspensão da perseguição aos cristãos, Galério reinou por mais dois anos. Ele então foi sucedido por um imperador com forte inclinação ao cristianismo, Constantino, o Grande.

Constantino I, o novo imperador foi apresentado ao cristianismo por meio de sua mãe, Helena. Na Batalha da Ponte Mílvia, em 28 de outubro de 312, Constantino ordenou que suas tropas pintassem uma cruz nos escudos dos soldados, de acordo com uma visão que tivera na noite anterior. 

De acordo com a Tradição, Constantino teve uma visão enquanto olhava para o sol que se punha. As letras gregas XP (Chi-Rho: Χριστόϛ: as primeiras duas letras de: Cristo) entrelaçadas com uma cruz apareceram-lhe enfeitando o sol, juntamente com a inscrição em latim In Hoc Signo Vinces — Sob este signo vencerás. Depois de vencer a batalha com uma vitória esmagadora sobre seus inimigos, Constantino foi capaz de reivindicar o controle da parte Ocidental do Império.

É difícil discernir exatamente quando Constantino tornou o cristianismo à religião oficial do Império Romano. As moedas romanas, por exemplo, que foram cunhadas oito anos após a batalha ainda tinha as imagens dos deuses romanos.

No entanto, a adesão de Constantino foi um ponto decisivo para a Igreja cristã. Após sua vitória, Constantino apoiou financeiramente a Igreja, construindo basílicas suntuosas e concedendo vários privilégios para o clero, como a isenção de impostos que os Sacerdotes Pagãos possuíam.

O imperador ainda devolveu bens confiscados durante a perseguição de Diocleciano, aboliu a execução realizada por meio de crucificação, pôs fim às batalhas dos gladiadores como punição pra crimes e instituiu o domingo como feriado.

Entre 324 e 330, Constantino construiu uma nova capital imperial praticamente do zero. A cidade veio a ter o seu nome: Constantinopla. Ela tinha a arquitetura cristã, várias igrejas contidas dentro da muralha da cidade e não tinha templos pagãos. De acordo com a tradição, Constantino foi batizado em seu leito de morte.

O imperador também desempenhou um papel ativo na liderança da Igreja. Em 316, ele atuou como juiz em uma disputa que ocorreu no norte africano sobre o donatismo. Mais significativamente, em 325, convocou o Concílio de Niceia, o primeiro concílio ecumênico, para lidar principalmente com a controvérsia ariana.

O concílio também emitiu o Credo Niceno-Constantinopolitano, que entre outras coisas, promoveu uma crença professada na Santa Igreja Católica Apostólica. Dessa forma, Constantino estabeleceu um precedente para o imperador, que seria responsável perante Deus pela saúde espiritual de seus súditos, tendo o dever de manter a ortodoxia. O imperador iria impor a doutrina, erradicar a heresia, e defender a unidade eclesiástica.

Filho do sucessor de Constantino, conhecido como Juliano, o Apóstata, foi um filósofo que ao se tornar imperador, renunciou ao cristianismo e adotou uma forma mística de neoplatonismo e de paganismo, que se chocava com a criação cristã. 

Juliano começou a reabrir os templos pagãos, começando assim uma disputa de fiéis entre cristãos e pagãos. Depois, com a intenção de restabelecer o prestígio das crenças pagãs, ele as modificou, assemelhando-as as tradições cristãs, como a estrutura episcopal e a caridade pública (filantropia) até então desconhecida na religião romana. O curto reinado de Juliano acabou com sua morte, enquanto fazia campanha no Oriente.

Mais tarde os Padres da Igreja escreveram volumosos textos teológicos, inclusive Agostinho de Hipona, Gregório de Nazianzo, Cirilo de Jerusalém, Ambrósio de Milão, Jerônimo, entre outros. Alguns destes pais, tais como João Crisóstomo e Santo Atanásio, sofreram exílio, perseguição, ou o martírio dos imperadores bizantinos.

Concílios ecumênicos 

Durante esta época, vários concílios ecumênicos foram convocados. O principal assunto debatido eram as disputas cristológicas. O primeiro (325) e o segundo Concílio de Niceia (381) condenaram os ensinamentos da heresia ariana, produzindo assim o Credo Niceno-Constantinopolitano. 

O Concílio de Éfeso (431) condenou o nestorianismo e afirmava ser Maria Theotokos (portadora de Deus ou Mãe de Deus). O Concílio de Calcedônia (451) afirmou que Cristo tinha duas naturezas: era plenamente Deus e plenamente homem, ambas distintas, mas sempre em perfeita união. 

Assim, condenou o monofisismo. Esse Concílio serviu para refutar também o monotelismo. No entanto, nem todos os grupos aceitaram os termos aceitos nesses debates. Os nestorianos e a Igreja Assíria do Oriente, por exemplo, se dividiram sobre o Concílio de Éfeso, em 431; e a Ortodoxia Oriental se dividiu sobre o Concílio de Calcedônia, de 451.

Cristianismo como religião oficial do Estado romano 

Em 27 de fevereiro de 380, Teodósio I assina o Édito de Tessalônica, adotando cristianismo trinitariano como religião oficial do Império Romano. Antes disso, Constâncio II (337-361) e Flávio Júlio Valente (364-378) tinham pessoalmente favorecido o arianismo ou outras formas de cristianismo semiariano, mas Arcádio, sucessor de Teodósio I, apoiou a doutrina trinitariana como foi exposto no Credo Niceno-Constantinopolitano.

Após sua criação, a Igreja adotou na organização os mesmos limites do Império Romano: as províncias geográficas e as dioceses foram organizadas conforme a divisão territorial do governo imperial. 

Os bispos, que estavam localizados em grandes centros urbanos antes da legalização do cristianismo, supervisionavam cada diocese. 

O bispo local era a sua sede. Entre as sedes, as principais cidades eram: Roma, Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria. 

O prestígio dessas cidades dependia em grande parte da fundação apostólica de suas Igrejas. Sendo assim, os bispos desses cinco centros - a chamada Pentarquia - eram considerados sucessores espirituais dos apóstolos. Embora o bispo de Roma fosse considerado o mais importante entre ele e. Constantinopla tinha a preferência como a nova capital do império.

Teodósio I decretou em 385 que todos os que não acreditassem na preservada fiel tradição, como a Santíssima Trindade, deviam ser considerados praticantes de heresia. Esse decreto resultou, em 385, no primeiro caso de pena capital de um herege: Prisciliano.

Nestorianismo e o Império Sassânida 



Uma das primeiras representações de Cristo com uma barba, c.380

Durante o século V, a Escola de Edessa havia ensinado uma perspectiva cristológica diferente. Eles afirmavam que a natureza humana e a natureza divina de Cristo eram pessoas distintas. 

Uma consequência dessa perspectiva era que Maria não poderia ser apropriadamente chamado de a mãe de Deus, mas só poderia ser considerada a mãe de Cristo. O mais conhecido defensor desse ponto de vista era o Patriarca de Constantinopla, Nestório.

O dogma de Maria ser a Mãe de Deus havia se tornado popular em muitas partes da Igreja. Por isso, esse novo ponto de vista se tornou um assunto polêmico. O imperador romano Teodósio II proclamou dois concílios em Éfeso, o primeiro em 431 e o segundo em 449, com a intenção de resolver o problema.

Os concílios rejeitaram a visão de Nestório. Entretanto, muitas igrejas seguiram o ponto de vista nestoriano. Por isso, se separaram da Igreja Romana, causando o cisma nestoriano. As igrejas nestorianas foram perseguidas e muitos seguidores fugiram para o Império Sassânida, onde foram aceitos.

O Império Sassânida (persas) tinha muitos convertidos ao cristianismo. O início de sua história estava intimamente ligado ao ramo do cristianismo siríaco. O império foi oficialmente zoroastra, mantendo uma estrita adesão a essa fé, em parte, para se distinguir da religião do Império Romano (originalmente a religião pagã romana e o cristianismo).

O cristianismo tornou-se tolerado no Império Sassânida. Como o Império Romano perseguia os hereges, havia cada vez mais exilados durante os séculos IV e VI, fazendo com que a comunidade cristã sassânida crescesse rapidamente.

Até o final do século V, a Igreja persa estava firmemente estabelecida e se tornou independente da Igreja Católica Romana. Esta igreja evoluiu para o que hoje é conhecida como a Igreja do Oriente.

Miafisismo 
Em 451, foi realizado o Concílio de Calcedônia a fim de esclarecer as questões cristológicas em torno do nestorianismo. O concílio declarou que a natureza de Cristo era dupla: tanto humana quanto divina. Esse ponto de vista foi rejeitado por muitas Igrejas que se chamavam miafisistas. 

O cisma resultante desse concílio criou uma comunhão de seis igrejas que incluem Igreja Apostólica Armênia, a Igreja Ortodoxa Síria e a Igreja Ortodoxa Copta. Embora tivessem sido feitos esforços para a reconcialação, nos séculos seguintes, o cisma se manteve permanente, resultando no que hoje é conhecida como a Ortodoxia Oriental.

Igreja gótica 


Constantino I queimando livros do presbítero Ário, ilustração de um livro de direito canônico de 825

A perspectiva cristológica popular do século IV foi o arianismo, defendida pelo presbítero egípcio Ário. Embora esse ponto de vista tivesse sido condenado pela Igreja romana imperial, manteve-se popular no Império durante algum tempo. No quarto século, Ulfilas, bispo romano e adepto do arianismo, foi nomeado o primeiro bispo dos godos: povos germânicos que habitavam grande parte da Europa nas fronteiras do Império. 

Ulfilas propagou a visão cristã ariana entre os godos, estabelecendo firmemente a fé entre muitas das tribos germânicas. Como a Igreja Romana tornou-se cada vez mais antiariana, o arianismo foi visto por muitos godos como a característica de sua fé que os separava dos romanos.

Monasticismo  

O monasticismo é uma forma de ascetismo em que se renuncia as atividades mundanas e se concentra exclusivamente em atividades espirituais, principalmente, as que incluem alguma virtude como:  humildade, pobreza e castidade. 

Ele começou bem cedo na Igreja, baseado em exemplos e ideais bíblicos, além de possuir raízes em certas correntes do judaísmo. João Batista é visto como um monge arquétipo. O monasticismo também foi inspirado pela organização da comunidade apostólica, conforme registrado em Atos 2,42.

Existem duas formas de monasticismo: Os monges eremitas vivem na solidão, enquanto os cenobitas vivem em comunidades, geralmente em um mosteiro, sob uma regra (ou código de prática) e são governados por um abade.

Originalmente, todos os monges cristãos eram eremitas, seguindo o exemplo de Antão do Deserto. No entanto, a necessidade dos monges terem algum tipo de orientação espiritual levou São Pacômio a juntar alguns seguidores e organizar aquele que viria a ser o primeiro mosteiro, em 318. 

Logo, as instituições similares foram estabelecidos ao longo do deserto egípcio, assim como o resto da metade oriental do Império Romano. Mulheres foram especialmente atraídas ao movimento.

As figuras centrais no desenvolvimento do monasticismo foram Basílio, o Grande, no Oriente e São Bento de Núrsia, no Ocidente. Fundador da Ordem dos Beneditinos, São Bento criou a famosa Regra de São Bento, que viria a ser a regra mais comum durante a Idade Média, e o ponto de partida para outras regras monásticas.

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