terça-feira, 5 de julho de 2016

ÉTICA NO SANTO DAIME

Toda doutrina espiritual se origina de um conjunto de revelações espirituais dos seus fundadores.

Por sua vez, estas revelações e experiências espirituais marcantes dão origem a um conjunto de ensinamentos e práticas. No entanto, como tudo isto acontece numa cultura específica e num tempo determinado, estes fatores culturais sempre estão misturados dentro do corpo doutrinário.

O maior desafio nestes casos é que quanto mais uma tradição se expande e universaliza, nem sempre é possível transpor integralmente o contexto cultural onde ela é gerada.

Isto exige uma grande sensibilidade para manter a essência dos seus ensinamentos e ao mesmo tempo a flexibilidade para que estes possam ser corretamente assimilados pelo novo contexto cultural

No nosso caso não poderia ser diferente. Desde os tempos do Mestre Irineu e depois, no seguimento dado pelo Padrinho Sebastião, nosso movimento sempre esteve impregnado destes valores “caboclos”.

Depois, a própria expansão colheu gente dos mais diversos segmentos sociais que tanto assimilaram estas influências culturais como por sua vez trouxeram outra cultura proveniente dos grandes centros urbanos.

Por isso, torna-se muito importante a fixação dos preceitos espirituais e também de um código de ética que expresse os princípios universais de uma tradição que podem ser partilhados e aceitos por diversas culturas.  Principalmente na falta dos códigos orais e informais, estas garantias de uma conduta ética são indispensáveis.

Nosso verdadeiro código de ética se encontra dentro dos preceitos dos hinários. Neles encontramos ensinamentos de grande sabedoria para o nosso bem viver. No entanto, o crescimento da doutrina, seu desenvolvimento em outros países e outras línguas e culturas torna necessário definir alguns preceitos éticos para tornar estes princípios acessíveis para todas as culturas.

Para garantir que nossa prática espiritual possa estar sustentada nos valores universais e nos direitos humanos, inspirados em princípios positivos e sadios, válidos para todos os povos e culturas, definimos aqui alguns destes preceitos, constantes do nosso Código de Ética!

Como membros desta Irmandade, é nosso intuito manter as tradições da doutrina do Santo Daime, a fim de favorecer a transformação e a evolução de todas as pessoas que buscam iluminação e cura para a mente, corpo e espírito.

Desejamos também proteger, promover e encorajar a vivência da doutrina e de seus ensinamentos, o amor a Deus, amor à Terra e a todos os seres da criação, incluindo o amor a si mesmo, amor e respeito por todos os irmãos e irmãs, aceitar a verdade da  nossa revelação espiritual e ao mesmo tempo ter tolerância com as falhas de cada um, através da prática do perdão, compaixão e humildade.

 

Os membros da irmandade, tanto dirigentes quanto neófitos, devem realizar seu trabalho,  desempenhar suas atividades com honestidade, integridade e sabedoria.

A ninguém será concedido direito de se colocar acima das virtudes e dos valores apregoados pela Doutrina.

Direitos dos participantes

Procuramos preservar a autonomia e a dignidade de cada pessoa. A participação nos trabalhos deve ser voluntária e baseada em prévio conhecimento e consentimento dado individualmente por cada participante.

O conhecimento prévio deve incluir a discussão de cada elemento da prática que possa representar risco físico ou psicológico, incluindo medicação contra-indicada ou considerações sobre a adequação da dieta.

Os participantes devem  também ser avisados de que esta participação pode ser difícil e dramaticamente transformadora. O consentimento deve incluir informações sobre o histórico médico, formulários de consentimento e regras gerais para os trabalhos.

Os limites de comportamento dos participantes e dos membros da comunidade deverão ser esclarecidos e acordados previamente. Todas as medidas cabíveis serão tomadas para assegurar a saúde e a segurança dos participantes durante os trabalhos e durante os períodos vulneráveis que se seguirem a eles.

Confidencialidade

 

Respeitamos a privacidade e a confidencialidade de cada participante por ocasião dos  trabalhos espirituais e nas atividades sociais dentro comunidade.

 

Desestimulamos o falar mal de outras pessoas e a propagação de boatos e informações sem fundamento comprovado do que ocorre na comunidade e na vida de cada um, o que se constitui naquilo que o Mestre denominava “correio da má notícia”. Entendemos que este tipo de prática mina a confiança e o respeito entre os membros, gerando competição, desconfiança e desunião.

 

Em lugar disto, incentivamos o uso da sinceridade e da amabilidade como forma de uma comunicação clara entre todos e que seja também coerente com os valores dos hinários e das nossas crenças espirituais.


Dinheiro

 

Concordamos em respeitar a propriedade do outro, ajudar a implantar a consciência na utilização de todos os recursos da terra, manter a honestidade ao lidar com o dinheiro e em todos os momentos praticar ações comerciais claras e honestas.   No espírito de servir, esforçamo-nos para facilitar a frequência aos trabalhos daqueles que eventualmente não possam contribuir com mensalidades, e outras formas de doação ou trabalho voluntário, conscientizando, porém estes irmãos e irmãs da necessidade de se assumir algum tipo de responsabilidade material para a manutenção da nossa comunidade (egrégora) e a obtenção da nossa bebida sacramental, desde que esta seja voluntária, razoável e adequada à condição de cada um.

 

Respeitamos também a sacralidade do trabalho espiritual e evitamos a promoção de produtos e serviços ou quaisquer outras formas de solicitação ou exploração no ambiente dos trabalhos.


Competência

           
Para manter a integridade dentro de nossa comunidade, reconhecemos a excelência do conhecimento espiritual, praticado e preservado pelos mestres, padrinhos e madrinhas, anciãos e anciãs da nossa tradição.
           
Concordamos também que estes conhecimentos sobre nosso ritual, doutrina e administração do nosso sacramento devem ser legados para as novas lideranças espirituais através de um sólido processo de capacitação e transmissão deste conhecimento.
             
Concordamos ainda em buscar a ajuda  de outras práticas e saberes específicos, mediante agentes e profissionais qualificados, que sejam benéficos para a assimilação das experiências espirituais profundas de transformação pessoal, principalmente aquelas que envolvem questões de projeção, transferência e contra-tranferência.

Tolerância

           
Concordamos em praticar a abertura e o respeito pelas pessoas cujas crenças são contrárias às nossas. Compartilhamos os ensinamentos do Santo Daime com aqueles que procuram este caminho e estas verdades ao mesmo tempo em que reconhecemos que fazer proselitismo é proibido. 
           
Para ajudar a salvaguardar contra as consequências nocivas da ambição pessoal e organizacional, evitamos a promoção ativa da Igreja.

Uso de substâncias

           
Não autorizamos o uso de qualquer substância ilegal durante os trabalhos ou na área do templo e suas vizinhanças.

Assédio e discriminação

           
Concordamos em garantir um ambiente livre de qualquer forma de assédio, incluindo discriminação por motivo de idade, sexo, religião, credo, origem étnica ou orientação sexual.  
           
Para proteger o bem-estar de todas as pessoas, concluímos que relações sexuais inapropriadas,  imposição de opiniões, preconceitos ou preferências pessoais de qualquer tipo são prejudiciais ao bem-estar do indivíduo e da comunidade.

 

Integridade

           
Esforçamo-nos para estar conscientes de como nosso próprio sistema de crenças, valores, necessidades e limitações nos afeta e influi na nossa capacidade para servir aos outros de forma imparcial e isenta.

Para evitar que ocorra , em alguma situação qualquer tipo de injustiça, estamos dispostos, sempre que necessário, a examinar nossas próprias motivações e praticar reflexões pessoais e autoavaliações coletivas que ajudem a promover o nosso próprio crescimento pessoal e dos demais envolvidos, no que se refere à ética.

Quando em dúvida, se uma situação particular possa violar o Código de Ética, concordamos em consultar o conselho apropriado para escolher a melhor resposta. Se uma situação mostrar que o Código de Ética foi violado, concordamos em dizer a verdade e em ajudar a remediar a situação.

Conselho


No caso de conflitos ou dificuldades entre as pessoas, vamos procurar primeiro resolver o problema diretamente com o indivíduo. Se a situação não se resolver, concordamos em procurar primeiramente conselho e/ou orientação de um líder ou de um membro mais antigo da comunidade, o Padrinho ou Madrinha ligado(a) à Igreja/ponto, ou ao Conselho de Igrejas.Durante todo o processo deveremos nos ater aos princípios de confidencialidade acima citados. 

Nossa tradição espiritual traz uma mensagem de amor cristão e de caridade. Nesta medida, ela tem correspondido à demanda de espiritualidade existente em todos os continentes. Estes princípios universais têm prevalecido independente das diferenças de língua e de cultura.

A expansão da nossa Igreja e a prática  da doutrina do Santo Daime nos diversos países onde ela tem se processado, tem sido, além do seu conteúdo espiritual, uma  manifestação de engrandecimento da língua portuguesa e da nossa cultura.

Fato constatável no aumento considerável de  estudos e pesquisas acadêmicas sobre este tema, assim como o grande numero de irmãos e irmãs das Igrejas do exterior que têm frequentado cursos de língua portuguesa e se interessado em estudar nossa cultura.

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