O QUE É PAJELANÇA?
Pajelança, s.f.:
1)
Na etnologia: “série de rituais que o pajé
indígena realiza em certas ocasiões com um objetivo específico de cura ou
magia”.
2. Nas religiões: “rito que
mescla práticas religiosas indígenas com elementos católicos, espíritas e de
seitas afro-brasileiras, empregada. com finalidades de cura, prognóstico de
acontecimentos, intercessão de poderes sobrenaturais” etc.
Pajé
na pajelança
PAJELANÇA: O XAMANISMO BRASILEIRO
Pajelança
É provável que a palavra Pajé venha da raiz pa-y = profeta, adivinho, curador, sacerdote, xamã. O termo
pajelança é aplicado nas manifestações xamânicas dos índios brasileiros. Pode
ser divido em pajelança indígena
(rituais indígenas) e pajelança cabocla,
que são praticas religiosas (não índígenas) mais comuns no Norte e Nordeste
brasileiro.
Há anos atrás, o amigo Walter Vetillo foi a Belém fazer uma reportagem para a Revista Planeta, cobrindo o VI Congresso Brasileiro de Parapsicologia e Psicotrônica onde se realizaou um Encontro de Pajés. Parte da mátéria transcrevo abaixo:
Há anos atrás, o amigo Walter Vetillo foi a Belém fazer uma reportagem para a Revista Planeta, cobrindo o VI Congresso Brasileiro de Parapsicologia e Psicotrônica onde se realizaou um Encontro de Pajés. Parte da mátéria transcrevo abaixo:
Afinal...quem são os pajés ?
Existe muito pouca coisa publicada
no Brasil sobre este fascinante assunto. Uma contribuição preciosa foi o
depoimento do estudioso dos mistérios amazonenses, Antonio Jorge Thor. Thor
comenta o xamanismo e a pajelança:
Um aspecto curioso deste assunto é que nos Estados Unidos, quando se fala em xamanismo, muitas linhagens dos xamãs são mulheres. No Brasil não; aqui pajé é sempre somente do sexo masculino - primeira geração, que passa de pai para filho. Para ser um pajé, o candidato deve ser um paranormal e médium ao mesmo tempo. Ou seja, deve ter muitas força mental (paranormalidade) e a mediunidade, que mexe com a bioenergética, com as partículas biocósmicas (provocam a expansão da consciência fora da matéria, o espírito, por exemplo), enfim aquela coisa da espiritualidade.
Entre as diversas tribos, como os Kraôs, caiapós e gaviões, varia muito o conceito de pajelança, mas eles tem alguma coisa em comum: o misticismo, o segredo. Você, às vezes, passa um longo tempo para conseguir uma informação, um segredo, como, por exemplo, sobre um não alucinógeno para você sair com facilidade do corpo (desdobramento).
O pajé penetra na área da encantaria, uma outra vertente da grande magia que pouca gente conhece, que é passar para uma outra dimensão e muitos deles quando retornam dessa experiência voltam curados. Eu fui iniciado pelas mãos de uma curandeira de terceira geração que foi tratada pelos pajés. Doente, ela passou algum tempo desaparecida e quando retornou, além de curada veio com dons incríveis.
A pajelança é uma forma de magia nativa da Amazônia, tipicamente indutiva, atuando sobre qualquer elemento vivo e mantendo estreita relação com os demais reinos da natureza: mineral, vegetal e animal. É praticada por curandeiros (principalmente pelos pajés da Amazônia), com base no xamanismo indígena.
Pelas suas ações, o xamã tenta estabelecer contato com outras formas de existência, através de comunicações com entidades sobrenaturais, procurando restabelecer o equilíbrio perdido entre a natureza e a mente. Esse processo envolve curas, exorcismos, e outros atos com objetivos diversos.
A visão holística da cultura xamanista não pode ser esquecida, fornecendo ao pajé um importante elo que o integra ao todo. Nesse sentido Fritjof Capra, em ponto de Mutação, sintetiza: "A característica predominante da concepção xamanista de doença é a crença de que os seres humanos são partes integrantes de um sistema ordenado em que toda a doença é consequência de alguma desarmonia em relação à ordem cósmica”. Com grande frequência, a doença também é interpretada como castigo por algum comportamento imoral.
A pajelança autêntica abrange os pajés reunidos no conceito de "alta pajelança", cujos segredos são guardados a sete chaves - haja vista não terem interesse em que profanos venham a desfrutar dessas dádivas. A pajelança se subdivide em duas correntes:
Um aspecto curioso deste assunto é que nos Estados Unidos, quando se fala em xamanismo, muitas linhagens dos xamãs são mulheres. No Brasil não; aqui pajé é sempre somente do sexo masculino - primeira geração, que passa de pai para filho. Para ser um pajé, o candidato deve ser um paranormal e médium ao mesmo tempo. Ou seja, deve ter muitas força mental (paranormalidade) e a mediunidade, que mexe com a bioenergética, com as partículas biocósmicas (provocam a expansão da consciência fora da matéria, o espírito, por exemplo), enfim aquela coisa da espiritualidade.
Entre as diversas tribos, como os Kraôs, caiapós e gaviões, varia muito o conceito de pajelança, mas eles tem alguma coisa em comum: o misticismo, o segredo. Você, às vezes, passa um longo tempo para conseguir uma informação, um segredo, como, por exemplo, sobre um não alucinógeno para você sair com facilidade do corpo (desdobramento).
O pajé penetra na área da encantaria, uma outra vertente da grande magia que pouca gente conhece, que é passar para uma outra dimensão e muitos deles quando retornam dessa experiência voltam curados. Eu fui iniciado pelas mãos de uma curandeira de terceira geração que foi tratada pelos pajés. Doente, ela passou algum tempo desaparecida e quando retornou, além de curada veio com dons incríveis.
A pajelança é uma forma de magia nativa da Amazônia, tipicamente indutiva, atuando sobre qualquer elemento vivo e mantendo estreita relação com os demais reinos da natureza: mineral, vegetal e animal. É praticada por curandeiros (principalmente pelos pajés da Amazônia), com base no xamanismo indígena.
Pelas suas ações, o xamã tenta estabelecer contato com outras formas de existência, através de comunicações com entidades sobrenaturais, procurando restabelecer o equilíbrio perdido entre a natureza e a mente. Esse processo envolve curas, exorcismos, e outros atos com objetivos diversos.
A visão holística da cultura xamanista não pode ser esquecida, fornecendo ao pajé um importante elo que o integra ao todo. Nesse sentido Fritjof Capra, em ponto de Mutação, sintetiza: "A característica predominante da concepção xamanista de doença é a crença de que os seres humanos são partes integrantes de um sistema ordenado em que toda a doença é consequência de alguma desarmonia em relação à ordem cósmica”. Com grande frequência, a doença também é interpretada como castigo por algum comportamento imoral.
A pajelança autêntica abrange os pajés reunidos no conceito de "alta pajelança", cujos segredos são guardados a sete chaves - haja vista não terem interesse em que profanos venham a desfrutar dessas dádivas. A pajelança se subdivide em duas correntes:
Ø Pajelança de "conta branca": atua em favor do bem, curando principalmente doenças físicas e
mentais e resolvendo problemas do cotidiano da comunidade;
Ø Pajelança de "conta
negra": atua em favor do mal. Visa a facilitar
a vitória na guerra com outras tribos ou a disputa de guerreiros para se tornar
líderes. Serve também para matar ou adoecer uma vítima, sendo que em alguns
casos é usada para dificílimos trabalhos de cura.
A pajelança verdadeira é restrita a uma minoria que ostenta os segredos e poções mágicas que rejuvenescem, curam, matam, provocam viagens astrais e outras grandes iniciações. Atualmente, existem poucos pajés desse tipo no Brasil. A presença da mulher é vedada.
Já a pajelança paralela (segunda geração) envolve as várias formas de curandeirismo popular - principalmente as rezadeiras e benzedeiras - que trazem no sangue a eugenia nativa, além de estarem representadas em alguns rituais da Umbanda.
Finalmente, a pajelança afim (terceira geração) engloba o curandeirismo popular originado da pajelança mater (mãe), porém com atuação mais aberta que a anterior. Apresenta influências visíveis de outras magias, seitas, misturando-se a outras culturas folclóricas e crendices de povos diversos.
É a pajelança com maior influência no Brasil, e suas benzedeiras, que utilizam ervas e rezas para tirar o "quebranto", muitas vezes, conseguem imbuir-se de dons que são inerentes aos pajés.
Já as rezadeiras, embora sejam incluídas nesse grupo, são originárias do Nordeste, submetendo-se assim a uma influência maior do catolicismo. Há também as vertentes (variantes) da pajelança cabocla e a de pretos velhos.
A pajelança cabocla consiste em práticas religiosas (não indígenas) mais comuns no Norte e Nordeste (Jurema Sagrada de Caboclo) com o culto a Pomba Gira, Zé Pelintra, Tranca-ruas, Sete Flechas, etc, entre outras entidades e está muito ligada à Umbanda. Em Santa Catarina (Jaraguá do Sul), há a Tenda de Umbanda Caboclo Pajelança.
A Pajelança de pretos velhos, típica também da Umbanda, é o culto aos pretos velhos importantes que já faleceram e que são invocados e cultuados nesta pajelança. É a ênfase a personalidades negras.
O Maranhão é considerado o “berço” do tambor de mina (religião afro-brasileira muito conhecida no Norte do Brasil onde são cultuados voduns e orixás e entidades espirituais não africanas).
Vários terreiros de São Luis e de outras cidades maranhenses são conhecidos como “de curadores” ou realizam rituais denominados cura ou pajé – denominação que tem sugerido a existência neles de ênfase maior na função terapêutica do que no culto a entidades espirituais e a existência de maior sincretismo com a cultura indígena, já que a etimologia tupi da palavra pajé é amplamente conhecida como já vimos.
A pajelança, em geral, deve ser usada por quem realmente a domina, manipulando o universo de magias que a constituem. A princípio, todos os métodos usados são indutivos, sincronizados a um objeto (instrumento de poder→magia) e resguardado pelos dons inatos do pajé.
Sua maior finalidade está na força de cura ou no resultado que produz a partir de três fatores básicos:
A pajelança verdadeira é restrita a uma minoria que ostenta os segredos e poções mágicas que rejuvenescem, curam, matam, provocam viagens astrais e outras grandes iniciações. Atualmente, existem poucos pajés desse tipo no Brasil. A presença da mulher é vedada.
Já a pajelança paralela (segunda geração) envolve as várias formas de curandeirismo popular - principalmente as rezadeiras e benzedeiras - que trazem no sangue a eugenia nativa, além de estarem representadas em alguns rituais da Umbanda.
Finalmente, a pajelança afim (terceira geração) engloba o curandeirismo popular originado da pajelança mater (mãe), porém com atuação mais aberta que a anterior. Apresenta influências visíveis de outras magias, seitas, misturando-se a outras culturas folclóricas e crendices de povos diversos.
É a pajelança com maior influência no Brasil, e suas benzedeiras, que utilizam ervas e rezas para tirar o "quebranto", muitas vezes, conseguem imbuir-se de dons que são inerentes aos pajés.
Já as rezadeiras, embora sejam incluídas nesse grupo, são originárias do Nordeste, submetendo-se assim a uma influência maior do catolicismo. Há também as vertentes (variantes) da pajelança cabocla e a de pretos velhos.
A pajelança cabocla consiste em práticas religiosas (não indígenas) mais comuns no Norte e Nordeste (Jurema Sagrada de Caboclo) com o culto a Pomba Gira, Zé Pelintra, Tranca-ruas, Sete Flechas, etc, entre outras entidades e está muito ligada à Umbanda. Em Santa Catarina (Jaraguá do Sul), há a Tenda de Umbanda Caboclo Pajelança.
A Pajelança de pretos velhos, típica também da Umbanda, é o culto aos pretos velhos importantes que já faleceram e que são invocados e cultuados nesta pajelança. É a ênfase a personalidades negras.
O Maranhão é considerado o “berço” do tambor de mina (religião afro-brasileira muito conhecida no Norte do Brasil onde são cultuados voduns e orixás e entidades espirituais não africanas).
Vários terreiros de São Luis e de outras cidades maranhenses são conhecidos como “de curadores” ou realizam rituais denominados cura ou pajé – denominação que tem sugerido a existência neles de ênfase maior na função terapêutica do que no culto a entidades espirituais e a existência de maior sincretismo com a cultura indígena, já que a etimologia tupi da palavra pajé é amplamente conhecida como já vimos.
A pajelança, em geral, deve ser usada por quem realmente a domina, manipulando o universo de magias que a constituem. A princípio, todos os métodos usados são indutivos, sincronizados a um objeto (instrumento de poder→magia) e resguardado pelos dons inatos do pajé.
Sua maior finalidade está na força de cura ou no resultado que produz a partir de três fatores básicos:
v
Força Mental: é um dos instrumentos
fundamentais de um pajé. Existe um arquétipo-modelo que fornece meios para a
paranormalidade aguçar-se à medida que o pajé passa a usar elementos oriundos
da natureza: comer determinadas frutas ou raízes, ingerir certas bebidas
sagradas através de fórmulas secretas, etc. Esse complexo aguça a
paranormalidade e está associado a outros exercícios como a entonação de
mantras (cantos repetitivos).
v
Sincronia de elementos: constitui o poder de
invocar elementos das diversas dimensões, através de cânticos mântricos e
imagens. Quando associado à natureza, esta força ostenta a verdadeira fórmula
que muitos pajés, bruxos e outros magos guardam a sete chaves. O próprio maracá, quando sacudido cadencialmente,
cria uma estrutura energética que permite a abertura para a paranormalidade.
v
Agentes auxiliares: o auxílio a esses
trabalhos provém de seres de diversos planos dimensionais, invocados para
operar como reforço, com os elementos da natureza, os encantados (seres energéticos de outras dimensões) e outros agentes
chamados tetaianos, ou seja,
otimizados pelas comunicações biocósmicas (espíritos de pajés e de outros
seres).
Um
elemento indispensável na pajelança é o maracá:
o
qual é feito de uma cabaça de capacidade variável, geralmente de um litro ou
mais. Enche-se este maracá com as mesmas sementes
pretas (ymaû) (...). Estas sementes têm um certo valor sagrado.
Nunca se as deixa caídas pelo chão e, mesmo quando ocorrem em abundância, são
recolhidas e guardadas em cestinhos. (...) Uma coroa de plumas o enfeita nas
partes em que emerge da cabaça; (...).
Os maracás dos Guaranis não são enfeitados por incisões como os de muitas outras tribos, apresentando a casca lisa, de cor marrom-amarelada. [...]. Estes maracás são muitas vezes heranças antigas, que passam de pai para filho. Sua santidade e poder mágico me parecem estar especialmente na sua “voz”, isto é, no seu som. Os índios sempre ficam extremamente constrangidos, quando um estranho indiscreto pega um maracá e começa a brincar despreocupadamente com aquele “chocalho de criança”.
O maracá de um xamã é recebido ou confeccionado durante a iniciação, sendo, portanto, sagrado para ele. Em alguns casos é passado de pai para filho; ou ainda, o "escolhido" é induzido a achá-lo mediante as regras impostas pelo ritual de iniciação.
Os maracás dos Guaranis não são enfeitados por incisões como os de muitas outras tribos, apresentando a casca lisa, de cor marrom-amarelada. [...]. Estes maracás são muitas vezes heranças antigas, que passam de pai para filho. Sua santidade e poder mágico me parecem estar especialmente na sua “voz”, isto é, no seu som. Os índios sempre ficam extremamente constrangidos, quando um estranho indiscreto pega um maracá e começa a brincar despreocupadamente com aquele “chocalho de criança”.
O maracá de um xamã é recebido ou confeccionado durante a iniciação, sendo, portanto, sagrado para ele. Em alguns casos é passado de pai para filho; ou ainda, o "escolhido" é induzido a achá-lo mediante as regras impostas pelo ritual de iniciação.
Figura de um maracá.
Outro elemento fundamental é o tauari,
uma espécie de charuto natural semioco
que ajuda o pajé a defumar o local ou a pessoa em questão. O charuto, com sua
fumaça cheirosa, objetiva imantar o ambiente e criar uma atmosfera toda
especial, para facilitar os contatos que o pajé queira fazer.
Tauari: Charuto para defumação.
Se o maracá e o charuto são
importantes para um pajé, pois assumem significados sagrados em suas mãos,
existem outros elementos secundários usados ao longo dos trabalhos
desenvolvidos, a saber:
Mascar certos vegetais ou mesmo
cheirá-los, ou até mesmo comer ou beber, também faz parte do ritual de entrada
de um xamã. Essa situação varia muito de pajé para pajé, de trabalho para
trabalho, dependendo do objetivo visado. O importante é que eles, usando
recursos totalmente naturais, provocam os mesmos efeitos de certos enteógenos.
Chás ou pós de ervas, alucinógenos
ou não, facilitam as viagens e a comunicação, com entidades de outros planos,
bem como aguçam a paranormalidade.
Porções para mascar, feitas com
plantas e raízes especiais, desenvolvem a sensibilidade do pajé e facilitam
suas viagens, as quais poderão trazer soluções para os casos pendentes.
Cantos nativos produzem vibrações e facilitam contatos com outros pajés, pessoas ou outros seres
invocados nos cânticos.
Dentro dessa estrutura, a pajelança é associada a rituais de grande beleza e magia, que extasiam a todos que se envolvem no processo de participação, ou mesmo como meros observadores.
Segundo Thor, o perfeito domínio sobre este incrível mundo mágico-natural pode por vezes levar alguns pajés de alta linhagem a alterar suas partículas atômicas, tornar-se invisíveis e deslocar-se no espaço, surgindo em outros lugares. Aqui vale a pena lembrar as experiências relatadas por Castañeda, em seus livros, descrevendo casos semelhantes com Dom Juan e D. Genaro.
Geralmente, o pajé exerce uma influência muito grande sobre seu povo - sua figura está para a tribo na mesma proporção em que o médico está para a comunidade. Isso faz com que sua importância e destaque assumam uma responsabilidade toda especial sobre os problemas que afligem seu grupo.
Por outro lado, como um médico, o pajé segue as normas e obedece às éticas moldadas pela sociedade e não poderia deixar de assumir um arquétipo blindado para sua tribo. Dificilmente alguma coisa lhe é negada, e ele, com justiça, exerce o poder e goza de fama e do respeito de todos.
Os pajés vivem bastante tempo, e os mais poderosos são chamados de sacaca, por sinal, o mesmo nome de um conhecido vegetal da Amazônia Oriental, detentor de inúmeras utilidades.
OBSERVAÇÕES:
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